O Realismo de Machado de Assis

Dom Casmurro - Machado de Assis


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Características do gênero literário

Conto

O conto é uma obra de ficção, um texto ficcional. Cria um universo de seres e acontecimentos de ficção, de fantasia ou imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.
Grande flexibilidadePor outro lado, o conto é um gênero literário que apresenta uma grande flexibilidade, podendo se aproximar da poesia e da crônica. Os historiadores afirmam que os ancestrais do conto são o mito, a lenda, a parábola, o conto de fadas e mesmo a anedota.O primeiro passo para a compreensão de um conto é fazer uma leitura corrida do texto, do começo ao fim. Através dela verificamos a extensão do conto, a quantidade de parágrafos, as linhas gerais da história, a linguagem empregada pelo autor. Enfim, pegamos o "tom" do texto.
Primeiros passosPodemos perguntar também: Quem é o autor do texto? Seja na internet, numa enciclopédia ou mesmo nos livros didáticos, é bom fazer uma pesquisa sobre o autor do conto, conhecer um pouco sua biografia. É um autor contemporâneo ou mais antigo? É um autor brasileiro ou estrangeiro?O conto quase nunca é publicado isoladamente. Geralmente ele faz parte de uma obra maior. Por exemplo, o conto "Uma Galinha", de Clarice Lispector, faz parte do livro "Laços de Família".
Seguindo adiante
Depois dessas primeiras informações, podemos fazer uma leitura mais atenta do conto: elucidar vocábulos e expressões desconhecidas, esclarecer alusões e referências contidas no texto. Também podemos pensar no título do conto. Porque o autor escolheu este título? Este esforço de compreensão qualifica - e muito - a leitura. Torna o leitor mais sensível, mais esperto.O passo seguinte é fazer a análise do texto. No momento da análise o leitor tem contato com as estruturas da obra, com a sua composição, com a sua organização interna. Para analisar o texto, é bom observar alguns aspectos da sua composição. Algumas perguntas são muito importantes: Quem? O que? Quando? Onde? Como?Formular as perguntas e obter as respostas ajuda a conhecer o conto por dentro:
Quais são os personagens principais?
O que acontece na história?
Em que tempo e em que lugar se passa a história narrada?
E algo bem importante: Quem narra? De que jeito? O narrador conta de fora ou ele também é um dos personagens?Depois dessa análise, fica mais fácil interpretar a obra. Já temos uma base para comentar, comparar, atribuir valor, julgar. Nossa leitura está mais fundamentada. Fica mais fácil responder à pergunta: O que você achou do conto?

Heidi Strecker é filósofa e educadora.*Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Literatura Oral

Histórias atravessam milênios

Os textos de tradição oral são histórias contadas em voz alta por um narrador a um grupo de ouvintes. Essa é uma tradição que data da Pré-História. Até hoje, nas tribos primitivas da África, da Austrália ou mesmo do Brasil, escutar um narrador contando histórias ainda é um costume comum.
A importância social da narrativa oral, cujas finalidades variam de acordo com as circunstâncias, gerou muitas maneiras de contar uma história. Isso criou vários gêneros de narrativas como o conto (popular, maravilhoso, de fadas), as fábulas, os apólogos, as parábolas, as lendas e os mitos.
Por meio dessa diversidade de narrativas, entra-se em contato com idéias que já fazem parte do patrimônio cultural da humanidade. O advento da escrita ajudou a preservar as narrativas da tradição oral, desde as mais remotas, como as do Antigo Egito e da Mesopotâmia, até as mais recentes, como os contos de fadas.
A importância de conhecer essa literatura é ampliar o nosso conhecimento de mundo e da história do homem. Abrir horizontes para o universo cultural da humanidade é um forma de crescer tanto pessoal quanto profissionalmente profissional. Mas, além de conhecimentos, essas histórias - em especial por sua engenhosidade - também entretêm e proporcionam diversão.
Conto infantilAlguns dos mais importantes pesquisadores dos contos da tradição oral universal foram o francês Charles Perrault (1628-1703), que recolheu várias histórias ainda muito conhecidas, como "Cinderela" e "O Pequeno Polegar", entre outras. Os alemães Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), que ficaram conhecidos como os Irmãos Grimm, dedicaram grande parte de suas vidas a recolher histórias contadas oralmente por pessoas comuns.
Além de escreverem as histórias, os dois estudiosos também registravam o modo como eram faladas, isto é, a linguagem popular de seu país. Finalmente, pode-se citar o dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) que registrou muitas histórias da tradição oral de seu país. Seus contos, como "A Menina dos Fósforos" ou "A Pequena Sereia" também continuam a fazer sucesso ainda nos dias de hoje.
No Brasil, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) foi um dos mais importantes pesquisadores da nossa cultura popular brasileira. Autor do "Dicionário do Folclore Brasileiro" registrou diversas narrativas populares, imortalizando personagens como o Saci, a Mula-sem-cabeça e o Curupira.
Histórias que o povo conta O adjetivo "popular" significa, segundo o dicionário Houaiss, "relativo ou pertencente ao povo, especialmente à gente comum ". O conto popular, portanto, é uma narrativa de tradição oral que não possui um autor específico, é anônimo, criado em local e época ignorados, e passado através de gerações.
Por ser constantemente recontado, sofre modificações ao longo do tempo. É comum nessas narrativas a criação de personagens típicos da região na qual a história se originou. É um dos mais antigos gêneros da tradição oral, uma manifestação cultural que surge de modo espontâneo e não tem um compromisso com a cultura formal.
O conto popular possui uma riqueza expressiva e imagética e tende a ser universal, isto é, possui simbolismo e uma estrutura narrativa que é facilmente reconhecida e admirada pela maioria das pessoas, sejam adultas ou crianças, pessoas alfabetizadas ou não-alfabetizadas, gente instruída ou pessoas sem acesso à cultura formal, isto é, à escola.
Apesar de nascer do imaginário do homem simples e não ter uma vinculação com regras e normas, o conto popular possui particularidades em sua forma de composição. Por exemplo, em geral, os personagens são pessoas simples que, após muitas aventuras, conseguem vencer na vida, por assim dizer. Nestes contos, em geral apresentam-se muitos enigmas e desafios que exigem dos personagens inteligência e esperteza.
É fantástico "Maravilhoso" é algo que sobrenatural, que nos surpreende, encanta e fascina. O conto maravilhoso é aquele que procura tornar concretas e verossímeis histórias cujo caráter derivam para o devaneio e a fantasia.
Nestas narrativas, que se passam num tempo que não é real nem especificamente determinado, tudo pode acontecer. Os espaços onde elas ocorrem, em geral, são misteriosos e sombrios, como grutas e florestas. Os personagens principais passam por conflitos e são auxiliados por seres sobrenaturais, com poderes e capacidades extraordinárias.
Esses seres imaginários muitas vezes surgiram dos "Bestiários", livros da Idade Média que reuniam descrições e histórias de animais reais ou fantásticos. O grande escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986) fez um bestiário moderno e reuniu muitos seres fantásticos de diversos países. Veja, por exemplo, no breve trecho que segue, a descrição de um dragão chinês:
Dragão chinês
[...] O Dragão Chinês, o lung, é uma dos quatro animais mágicos. No melhor dos casos, o dragão ocidental é aterrorizante, e no pior, ridículo; o lung das tradições chinesas, ao contrário, tem divindade e é como um anjo que fosse também um leão [...]”
(Jorge Luis Borges e Margarita Guerrero - "O Livro dos Seres Imaginários". São Paulo: Editora Globo, 2000)
Contos de fadasVimos que nos contos maravilhosos a característica principal são as situações sobrenaturais e a presença de seres e objetos mágicos e encantados. Transformações, metamorfoses e ações extraordinárias de um modo geral podem acontecer a qualquer momento da história.
Há também um tipo de narrativa maravilhosa nas quais as transformações, em geral, são particularidades de determinados seres encantados, dotados de grandes poderes mágicos. Trata-se dos contos de fadas. As histórias desses contos, em geral, possuem personagens como príncipes, princesas, camponeses, entre outros, que são auxiliados pelas fadas, ou seus similares do sexo masculino, os magos, gênios etc.
A palavra fada vem do latim fatum que significa destino. Estes seres encantados orientam ou modificam o destino das pessoas. Por serem muito generosos e terem poderes sobrenaturais, eles surgem na "vida" dos personagens nos momentos de grandes dificuldades, quando parece que é impossível superar os conflitos.
Nos contos de fadas, como em muitas narrativas literárias, existem episódios ou situações de equilíbrio e desequilíbrio que vão se modificando, de acordo com os acontecimentos que provocam a passagem de um estado para outro. O que prende a atenção do leitor são estas situações de conflitos e as soluções que vão acontecendo durante a narrativa.

* Carla Caruso é escritora, pesquisadora e realiza projetos de capacitação de professores no Estado de São Paulo.Carla *Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

ATIVIDADE MENSAL/FINAL - 2os.EJA

OBJETIVO: TRABALHAR A LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL POR MEIO DE DIFERENTES LINGUAGENS LITERÁRIAS.

TEMA: O ROMANTISMO
1. LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL (FICHAMENTO) DO TEXTO DISPONÍVEL NESTE BLOG: O Romantismo e o surgimento do gênero romance (Antonio Carlos Olivieri)

Após a leitura e levantamento dos principais assuntos tratados no texto...

2. Observe a utilização da palavra “Romantismo”. Complete os trechos abaixo de tal modo que faça sentido:

____tividade pode inspirar o Romantismo e ser por el_______
___________________O Romantismo e o surgim________
___________________ romântico. Assim, _______________
___________________o Romantismo expressa, _________
___r à liberdade do próprio Romantismo, na medida ________
____s elementos formais do Romantismo que, devido_______
____, de fins do século 18, o Romantismo surgiu no i________

Agora, vamos usar o dicionário? Ele ajuda muito!!

3. Um texto é formado por palavras, que se repetem e formam diferentes frases. Veja que há algumas mais freqüentes. Indique qual a função delas no texto. Exemplifique.
Pal.//Freq.// %
DE/// 79// 4,28
A/?// 70// 3,80
E/?// 64// 3,47
O/?// 64// 3,47
QUE//48/2,60
DO/// 39// 2,11
SE/// 28// 1,52
ROMANCE// 25//1,36
EM/// 23 ///1,25
AO/// 22 //1,19


4. Relacione as colunas:

SÉCULO_____________ VERBO
NO_________________NUMERAL
UM_________________PREPOSIÇÃO
UMA________________ PREPOSIÇÃO + ARTIGO
À __________________ARTIGO
É__________________SUBSTANTIVO
POR________________ADJETIVO
MAIS_______________ ARTIGO + PREPOSIÇÃO
PARA_______________CONJUNÇÃO
_________________VERBO


5. Complete os trechos abaixo. Use da sua criatividade e insira algumas características da linguagem romântica estudada:

____________Modelos de cartas de amor Pouco depois, Ric_____
___________expectativas, busca de amor e felicidade, e aind____
___________e tivesse problemas de amor e de moral. Em tr_____
___________é uma manifestação de amor à liberdade do próp____

6. Observe que nos textos literários a palavra “aventuras” aparece muitas vezes, por que? Justifique de acordo com o período literário estudado. Aproveite e responda qual a função morfológica dela nos trechos abaixo:

1 em Rocambole ou suas aventuras extraordinárias
2 olêmicas. Amores e aventuras De qualquer
3 semelhanças entre as aventuras macunaímas
4 aventuras macunaímas e as aventuras de FHC. Talvez
5 narrativa de amores e de aventuras, o romance foi


7. O que são versos? Faz parte de qual gênero literário? Leia os trechos e identifique o papel de "versos" nos textos, na literatura, no seu dia-a-dia:

ou exótica. Utilizou os versos da tradição épica
contagem silábica dos versos foi sempre muito
nção "como". "Eu faço versos como quem chor
cidade da vida bucólica, versos simples, que pro
a uma forma fixa: seus versos eram metrificado
fingidas raposas".Estes versos vêm logo após os
e temos os chamados "versos livres" que não
Atualmente o ritmo dos versos foi liberado e tem


8. Qual a diferença entre as palavras bem e mal nos trechos abaixo:

que a bala lhe causasse um mal maior do que um
orge Byron, 1788-1824); o mal do século é o tédio

r condições não só para que fique bem informado
Esta é a leitura efetiva, aproveite bem este mom
realidade da doença nomeada.Pois bem, os escritores têm


9. Produza um texto dissertativo-argumentativo, crítico, referente sua leitura de “O Romantismo e o surgimento do gênero romance” de Antonio Carlos Olivieri

ATIVIDADE MENSAL/FINAL - 3os.EJA

OBJETIVO: TRABALHAR A LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL POR MEIO DE DIFERENTES LINGUAGENS LITERÁRIAS.

DURANTE ESTE MÊS, TRABALHANOS NA AULA PRESENCIAL:
- CLASSE: CARACTERÍSTICAS DO MODERNISMO (HISTÓRIA, LINGUAGEM, FORMA, GÊNERO ETC)
- SALA INFORMÁTICA: LEITURA DAS DIFERENTES LINGUAGENS (VERBAL E NÃO-VERBAL), POR MEIO DOS MATERIAIS/LINKS DISPONÍVEIS NO BLOG (EX: http://www.youtube.com/watch?v=C6tNuId7RNA).

ATIVIDADE

TEMA: A POESIA MODERNISTA DE DRUMMOND

1. LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL (FICHAMENTO) DO TEXTO DISPONÍVEL NO BLOG: A DIALÉTICA ILUMINADA DE DRUMMOND (FAVA, A.R.). OBS: ENTREGAR O RASCUNHO (“TEMPESTADE DE IDÉIAS”) JUNTO COM A PRODUÇÃO FINAL (INDIVIDUAL).

2. NOS TRECHOS ABAIXO O NOME DO POETA É UTILIZADO DE DIFERENTES MANEIRAS. EXPLIQUE POR QUE ISSO OCORRE NO TEXTO.

"Acredito que o lugar de Drummond para as gerações atuais,
Os poemas de Drummond que Franchetti mais aprecia
Claro enigma (1952), Drummond tenha deixado um legado de
papear "cara a cara". Drummond preferia passar uma hora
Stoyanov diz que Drummond era um poeta bastante admirado
ão do poeta brasileiro, Drummond é tão ou até mais importante que

Agora, vamos usar o dicionário? Ele sempre ajuda muito!!
OBSERVE A LISTA DE PALAVRAS FREQUENTES NO TEXTO DE FAVA:

Palavra//Freq.//%
-DE // 142 // 6,08
-QUE / 70 // 3,00
-O //// 65 // 2,78
-E //// 63 // 2,70
-DO // 57 // 2,44
-A //// 54 // 2,31
-NO // 41 // 1,76
-DA // 40 // 1,71
-UM //40 // 1,71
-DRUMMOND /38 /1,63

E ...
3. DISCUTA E RESPONDA, EM GRUPO, QUAIS AS CATEGORIAS MORFOLÓGICAS DAS PALAVRAS QUE APARECEM COM MAIOR FREQÜÊNCIA NO TEXTO?

4. RELACIONE AS COLUNAS:

ANDRADE ____PREPOSIÇÃO____ DA
NÃO_______ SUBSTANTIVO____ PARA
UMA_______ ADVÉRBIO_______ SE
DE_________ ARTIGO________POESIA
TINHA_____ CONJUNÇÃO _____MEIO
E __________VERBO _________OS


5. HÁ PALAVRAS QUE TÊM MAIS DE UMA CATEGORIA MORFOLÓGICA. SELECIONE, PARA PROVAR ESTA AFIRMAÇÃO, UMA OU MAIS PALAVRAS DOS EXERCÍCIOS ANTERIORES.

6. COMPLETE:

Uma brincadeira (ou não?) que renderia ao ................. censuras e elogios.
comemora o centenário de nascimento do .................... (31 de outubro), a pole
especialista em Drummond, a importância do .............. para a poesia brasileira
no horizonte dos afetos e da consciência do ................... e uma forte experiência

7. INSIRA NAS LACUNAS A PALAVRA QUE DEFINE UM DOS GÊNEROS LITERÁRIOS UTILIZADOS POR DRUMMOND

pela literatura brasileira, em especial a ............ do poeta de Itabira. Stoyanov conta
é uma das maiores vozes líricas da .................... brasileira do século 20
ato de intervenção. "Era um tipo de .................. mais conceitual, que
legado de extrema importância para a .............. contemporânea de rigor, de

8. PRODUZA UM TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO QUE COMPROVE QUE A OBRA DE DRUMMOND É MODERNISTA (INDIVIDUAL, ATÉ 10 LINHAS).

Senhora

Senhora LITERATO


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José de Alencar

Iracema - Jos� de Alencar


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Memórias

Mem�rias de um Sargento de Mil�cias - Manuel Ant�nio de Almeida


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Narrador

Quem conta a história

Nos textos de ficção, na maioria das vezes, não é o autor que se dirige diretamente ao leitor. O autor cria uma espécie de intermediário entre o leitor e o universo ficcional. Este intermediário chama-se narrador.
Narrador é aquele que conta a história. Ele pode fazer parte da história, ou apenas contá-la para o leitor. Quando o narrador faz parte da história, isto é, quando também é uma personagem, dizemos que é um narrador em primeira pessoa.
No conto "O peru de Natal", de Mario de Andrade, o narrador faz parte da história:
O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conseqüências decisivas para a felicidade familiar. (...)
Nesse caso, o narrador vai contar uma história acontecida com ele mesmo. Veja as expressões grifadas (nosso, meu). O narrador conta os fatos de que ele mesmo participa.
Na narração em primeira pessoa, há uma fixação clara do ponto de vista. O leitor entra em contato direto com o universo ficcional. Em "O peru de Natal", conhecemos a história pela perspectiva do filho.
Como o leitor entra em contato direto com o universo ficcional, tem reforçada a impressão de autenticidade, pois está muito próximo da ação, pois ela é apreendida sempre pelo ponto de vista deste narrador-personagem.
Mas nem sempre o narrador faz parte da história.
Narrador em terceira pessoa
Muitas vezes o narrador está distante em relação àquilo que vai contar, ele não se envolve com a narrativa. Nesse caso, falamos em um narrador em terceira pessoa.
O narrador em terceira pessoa está fora do plano dos acontecimentos. Não participa da história. Por isso mesmo, tem uma ampla liberdade de narrar: não têm o "rabo preso" com ninguém.
Funções do narradorAo contar uma história, o narrador desempenha várias funções. Tem que apresentar as personagens, a seqüência dos fatos, descrever o ambiente em que eles se passam. Diz-se que o narrador é o intermediário entre a narrativa e o leitor. Ele coloca o universo ficcional diante dos olhos do leitor.
Leia este trecho do conto "O poço", de Mário de Andrade.
Ali pelas onze horas da manhã o velho Joaquim Prestes chegou no pesqueiro. Embora fizesse força em se mostrar amável por causa da visita convidada para a pescaria, vinha mal-humorado daquelas cinco léguas cabritando na estrada péssima. Alias o fazendeiro era de pouco riso mesmo, já endurecido pelos setenta e cinco anos que o mumificavam naquele esqueleto agudo e taciturno.
Observe como se trata de um narrador em terceira pessoa.
Apesar de não participar da história como personagem, o narrador desempenha diversas funções importantes:
O narrador conta um fato (Joaquim Prestes chegou no pesqueiro). Situa este fato no tempo (onze horas da manhã) e no espaço (no pesqueiro).
Esclarece as circunstâncias deste fato (havia uma visita convidada para a pescaria, ele tinha andado cinco léguas numa estrada horrível).
Descreve Joaquim Prestes fisicamente (era magro e alto, parecia uma múmia).
Descreve Joaquim Prestes psicologicamente (era taciturno e mal-humorado).
Além disso, podemos observar ainda que o narrador já nos apresenta um elemento dramático, conflituoso, uma dica do que está por vir (apesar de Joaquim Prestes estar mal-humorado, ele tem de se mostrar amável para a visita).

*Heidi Strecker é filósofa e educadora.

Fábula

Quem foi Esopo?

A fábula é um gênero narrativo que surgiu no Oriente, mas foi particularmente desenvolvido por um escravo chamado Esopo, que viveu no século 6º. a.C., na Grécia antiga. Esopo inventava histórias em que os animais eram os personagens. Por meio dos diálogos entre os bichos e das situações que os envolviam, ele procurava transmitir sabedoria de caráter moral ao homem.Assim, os animais, nas fábulas, tornam-se exemplos para o ser humano. Cada bicho simboliza algum aspecto ou qualidade do homem como, por exemplo, o leão representa a força; a raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho etc.O francês Jean de La Fontaine (1621-1695) foi um dos maiores divulgadores dos textos de Esopo. Ele recriava essas fábulas com o objetivo de "educar" o homem de sua época. Conforme suas próprias palavras: "Acho que deveríamos colocar Esopo entre os grandes sábios de que a Grécia se orgulha, ele que ensinava a verdadeira sabedoria, e que a ensinava com muito mais arte do que os que usam regras e definições".
A fábula faz parte da tradição de literatura oral e, apesar de ter surgido há quase 2 mil anos, continua um gênero desenvolvido atualmente, na literatura escrita. Muitos escritores recriaram velhas fábulas dando-lhes novos finais ou novos significados. No Brasil, o humorista Millôr Fernandes é um grande cultor do gênero e autor de um livro chamado "Fábulas Fabulosas".Além da fábula, existem outros gêneros que também pretendem transmitir ensinamentos morais ou filosóficos através de narrativas, como o apólogo e a parábola.
Machado de Assis e Jesus Cristo O apólogo é uma narrativa breve como a fábula que contém um ensinamento ou crítica a determinado comportamento humano, mas seus personagens não são animais, mas sim objetos inanimados aos quais se atribuem qualidades humanas. A literatura brasileira possui "Um Apólogo" célebre, escrito por Machado de Assis, em que uma agulha discute com uma linha sobre qual das duas é mais importante na vida. No fim, a agulha descobre que só abre caminho para a linha passar e escuta o conselho irônico de um alfinete: "Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico".Já a parábola faz comparações entre realidades aparentemente diferentes para explicar uma idéia. Ela ilustra um determinado conteúdo, por meio de uma situação concreta. As doutrinas religiosas utilizam-se muito desta forma figurada para passar seus ensinamentos. São célebres as parábolas com que Jesus Cristo se comunica com o povo e com seus apóstolos, no Novo Testamento, em especial nos Evangelhos de São Mateus e São Marcos.
Santos e deuses
Na antiguidade, as lendas serviam para narrar os feitos de grandes homens, heróis ou povos inteiros, bem como histórias que explicavam o nascimento de cidades e nações. Muitos dos personagens lendários, diferentemente dos das fábulas e dos contos maravilhosos, são figuras originalmente humanas, transformadas com o passar dos anos em seres extraordinários. Porém, o universo das lendas é bem variado, e os seres maravilhosos também podem fazer parte destas narrativas.
Santo Antônio
Na Idade Média, as lendas se transformaram numa forma de contar a vida dos santos do cristianismo. As virtudes e boas ações destas personalidades eram narradas de modo que o ouvinte conhecesse o comportamento exemplar do santo e viesse a tomá-lo como modelo. Na Itália, do século 13, Jacopo de Varezze, reuniu uma coletânea de biografias de santos num volume intitulado "Legenda áurea", que serviria de inspiração para os padres formularem seus sermões.Assim como a lenda, o mito busca explicar determinado aspecto do mundo, por meio da ação de seres extraordinários. Porém, aqui os personagens principais são as divindades, os deuses, muitas vezes identificados com os fenômenos naturais. O mito narra tempos anteriores ao advento do ser humano e da civilização, revelando uma realidade que determina o mundo e o destino dos homens. Aspectos essenciais da condição humana estão presentes nestas narrativas, que têm imenso simbolismo psicológico.

* Carla Caruso é escritora, pesquisadora e realiza projetos de capacitação de professores no Estado de São Paulo.*Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Produção Textual - Competências avaliadas:


(Acesso em: http://noticias.uol.com.br/educacao/especiais/ult1811u184.jhtm)

1.Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita.

2.Compreender a proposta da redação e aplicar conceito das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.

3.Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

4.Demonstrar conhecimento dos mecanismos lingüísticos necessários para a construção da argumentação.

5.Elaborar a proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.


Desempenho do aluno em cada competência

Nota 2,0 - Satisfatório

Nota 1,5 - Bom

Nota 1,0 - Regular

Nota 0,5 - Fraco

Nota 0,0 - Insatisfatório


Teste VestibUOL

Veja se você assimilou bem a história que Mário de Andrade escreveu em "Macunaíma - O herói sem nenhum caráter" *Teste feito pelo Stockler

Vestibulares(Unifesp) Textos para as questões 01 a 03:
"Uma feita em que deitara numa sombra enquanto esperava os manos pescando, o Negrinho do Pastoreio pra quem Macunaíma rezava diariamente, se apiedou do panema e resolveu ajudá-lo. Mandou o passarinho uirapuru. Quando sinão quando o herói escutou um tatalar inquieto e o passarinho uirapuru pousou no joelho dele. Macunaíma fez um gesto de caceteação e enxotou o passarinho uirapuru. Nem bem minuto passado escutou de novo a bulha e o passarinho pousou na barriga dele. Macunaíma nem se amolou mais. Então o passarinho uirapuru agarrou cantando com doçura e o herói entendeu tudo o que ele cantava. E era que Macunaíma estava desinfeliz porque perdera a muiraquitã na praia do rio quando subia no bacupari. Porém agora, cantava o lamento do uirapuru, nunca mais que Macunaíma havia de ser marupiara não,porque uma tracajá engolira a muiraquitã e o mariscador que apanhara a tartaruga tinha vendido a pedra verde pra um regatão peruano se chamando Venceslau Pietro Pietra. O dono do talismã enriquecera e parava fazendeiro e baludo lá em São Paulo, a cidade macota lambida pelo igarapé Tietê."(Mário de Andrade, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.)

1. Os "manos" mencionados no texto são:
  1. ( )os índios que formam toda a tribo de Macunaíma.
  2. ( )os amigos anônimos que Macunaíma encontrara em São Paulo e que passam alguns dias de descanso na Amazônia.
  3. ( )Maanape e Jiguê, irmãos de Macunaíma.
  4. ( )Piaimã, Oibê e os macumbeiros do Rio de Janeiro.
  5. ( )Piaimã, Oibê, Maanape e Jiguê.

2. Pelas características da linguagem, que incorpora expressões da fala popular e mobiliza o léxico de origem indígena, pelo ambiente sugerido e também pela presença do uirapuru, o texto dá mostras de pertencer ao estilo:

  1. ( )romântico, de linha indianista.
  2. ( )simbolista, de linha esotérica.
  3. ( )modernista, de linha Pau-Brasil e a antropofágica.
  4. ( )naturalista, de linha nacionalista.
  5. ( )pós-modernista, de linha neo-parnasiana.

3. Os vocábulos "muiraquitã" e "tracajá" têm os seus significados desvendados pelo contexto lingüístico interno, porque são substituídos, no próprio texto, por vocábulos ou expressões equivalentes. Os equivalentes para "muiraquitã" e "tracajá" são, respectivamente,

  1. ( )"passarinho" e "tartaruga".
  2. ( )"talismã" e "tartaruga".
  3. ( )"pedra verde" e "mariscador".
  4. ( )"joelho" e "barriga".
  5. ( )"talismã" e "pedra verde".

4. (Fuvest) Comparando-se Brás Cubas e Macunaíma, é correto afirmar que, apesar de diferentes, ambos:

  1. possuem muitos defeitos, mas conservam uma ingenuidade infantil, isenta de traços de malícia e de egoísmo.
  2. tiveram seu principal relacionamento amoroso com mulheres tipicamente submissas, desprovidas de iniciativa.
  3. não trabalham, caracterizando-se pela ausência de qualquer demanda ou busca que lhes mobilize o interesse.
  4. narram suas histórias diretamente ao leitor, em primeira pessoa, depois de mortos: Brás Cubas, como defunto autor; Macunaíma, utilizando-se do papagaio.
  5. têm a vida avaliada, na parte final dos relatos, em um pequeno balanço, ou breve avaliação de conjunto, com resultado negativo.

5. (Fuvest) A presença da temática indígena em Macunaíma, de Mário de Andrade, tanto participa _________________, quanto representa uma retomada, com novos sentidos, _________________. Mantida a seqüência, os trechos pontilhados serão preenchidos corretamente por:

  1. ( )do movimento modernista da Antropofagia / do Regionalismo da década de 30.
  2. ( )do interesse modernista pela arte primitiva / do Indianismo romântico.
  3. ( )do movimento modernista da Antropofagia / do Condoreirismo romântico.
  4. ( )da vanguarda estética do Naturalismo / do Indianismo romântico.
  5. ( )do interesse modernista pela arte primitiva / do Regionalismo da década de 30.

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Veja dicas sobre autores e movimentos literários

Vamos dar uma relembrada em Carlos Drummond de Andrade? Nasceu em 1901, Itabira do Mato Dentro, interior de Minas Gerais, e morreu em 1987 no Rio de Janeiro. A infância de Drummond marca a sua poética - uma infância passada no interior de Minas, numa cidade pequena, em uma família extremamente conservadora. O livro que está na lista da Fuvest é Alguma Poesia, publicado em 1930, o primeiro de Drummond. O livro se insere no segundo tempo modernista, tempo de moderação e de consagração dos poetas modernistas. Apresenta duas temáticas importantes: o "gauche", a idéia do esquerdo, daquele que não é direito à realidade, que está desencontrado, que está desconcertado - o eu e o mundo estão desconcertados; e a blague, a risada, a gargalhada - uma temática dos modernistas, de rir diante da realidade do mundo, de rir de si próprio diante do mundo.
O poema que abre Alguma Poesia é o Poema de Sete Faces. São sete tons em sete estrofes. A primeira, muito famosa: Quando nasci, um anjo tortodesses que vivem na sombradisse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.Essa idéia de Carlos ser gauche na vida, seria a idéia de ser poeta? A idéia de ser lírico no mundo onde não há mais lirismo? E ele termina: Eu não devia te dizermas essa lua, mas esse conhaquebotam a gente comovido como o Diabo.
Esse jeito mineiro de terminar o poema, de dar uma cambalhota, como ele mesmo diz, é a idéia de brincar com o poema, de brincar com si mesmo, com os seus próprios sonhos, brincar com o leitor! É a blague - uma grande temática da poesia modernista.
Vamos dar uma revisada em Camões? Século XVI, apogeu da literatura, da cultura, do político e do social em Portugal. Época do Renascimento, que veio da Itália, do século XIV, e que chegou a Portugal no século XVI; publicação d'Os Lusíadas, a épica de Camões, e também da Lírica, que foi publicada postumamente, portanto não foi revisada pelo autor. A Lírica, os sonetos, é o que cai de Camões no vestibular. Três temáticas importantes: -o desconcerto do mundo, esse mundo que está errado; - o EU de Camões que não se adapta ao mundo, à mudança, ao mudar constante das estações, das pessoas, das situações diante do mundo, e esse EU que procura se adequar a essa grande mudança; - o maior dos temas e o mais trabalhado por Camões é o amor, procurando sempre, nos sonetos, atingir uma reflexão sublime sobre a idéia que ele está abordando. Importantíssima no amor de Camões é a reflexão que ele faz diante desse amor platônico, que é a moda da época do renascimento. O amor platônico é ver a idéia do mundo representada no amor espiritual. O amor está somente na idéia. Mas ele transgride essa regra, ele vai além do amor platônico. Ele também vê que o amor é aristotélico, o amor não é só idéia, o amor é forma, o amor é concretização. Por isso ele atinge o maneirismo e vai conseguir, através da reflexão, ser paradoxal e ser muito grandioso. Aí está o poema mais famoso dele: Amor é um fogo que arde sem se veré ferida que dói e não se senteé um contentamento descontenteé dor que desatina sem doer.
Essa tentativa de classificação do amor mostra o EU paradoxal, e a visão do mundo através dessa forma e do desejo.

Vamos dar uma passada em Cruz e Souza, poeta simbolista? João da Cruz e Souza nasceu em Santa Catarina, em 1861 e morreu em Minas Gerais em 1898; portanto, centenário da morte de Cruz e Souza este ano. Pai escravo, mãe alforriada! Teve uma vida marcada pelo preconceito racial. Trabalhou em jornal de orientação republicana e abolicionista. Ele abre o simbolismo brasileiro em 1893, com a publicação de Broquéis e Missal.
O simbolismo foi um movimento essencialmente poético, que não teve grande divulgação aqui no Brasil, e que trouxe para nós o subjetivismo romântico do poeta decadente, se contrapondo ao positivismo, ao cientificismo do realismo/naturalismo em voga até então.
O simbolismo veio se contrapor à ciência poética do parnasianismo, à ciência de fazer poesia - à arte pela arte. Veio com as idéias de invocar etéreas musas, da brancura mística, da sinestesia do poeta francês Charles Baudelaire. Cruz e Souza tem uma característica: a fixação pelo branco. Os três elementos mais importantes de sua poesia são o individualismo, o transcendentalismo e a musicalidade. O poema mais importante de Cruz e Souza é Antífona, que traz a idéia do branco, as formas alvas, brancas! Nele, essa fixação pelo branco de Cruz e Souza fica bem evidente.

Vamos dar uma dica de romantismo para vocês. O romantismo tem três gerações; desenvolveu-se na época das revoluções do século XVIII, dos ideais revolucionários, das grandes mudanças sociais, do liberalismo - que vai trazer para a literatura o grande sentimentalismo e a idéia de nacionalismo, manifestando-se sob a forma de poesia, romance, teatro e jornalismo. Três gerações, três poetas que nós vamos rever aqui.
- Primeira geração: a exaltação do passado, do nacionalismo, na geração nativista ou indianista. É também a volta do amor trovadoresco, do amor espiritual e da exaltação do índio. O grande poeta da primeira geração é Gonçalves Dias.
- Segunda geração: byroniana (do poeta inglês George Byron, 1788 - 1824); o mal do século é o tédio que leva à aspiração da morte, o desejo da morte como salvação. São idéias presentes na obra de Álvares de Azevedo.
- Terceira geração: condoreirista, de crítica social baseada em Victor Hugo (escritor francês, 1802 - 1885) . O grande poeta é Castro Alves, que traz a idéia do abolicionismo, é o poeta dos escravos. O poema de Castro Alves exigido pela Fuvest é o Espumas Flutuantes, um livro que tem influências da segunda e da terceira geração. O poeta é influenciado por Álvares de Azevedo e por Fagundes Varela, e também por alguns poemas críticos da sociedade da época. Não são poemas do escravismo! Os poemas do escravismo estavam em outro livro, que Castro Alves não conseguiu publicar em vida!
A diferença entre Castro Alves e Álvares de Azevedo?
Álvares de Azevedo busca a morte como salvação:
Se eu morresse amanhã
Oh, que alívio seria.
Para Castro Alves, morrer é a idéia do inevitável porque ele está doente, está morrendo, e infelizmente ele ainda quer viver.

Vamos dar uma dica sobre os livros da Fuvest. São dez os livros exigidos. Livros interessantíssimos como Sonetos de Camões; Espumas Flutuantes, Castro Alves; O Primo Basílio, de Eça de Queirós; Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; Alguma Poesia, do Drummond; Fogo Morto, de José Lins do Rego; Contos Novos, do Mário de Andrade; Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto; Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa; e Os Melhores Contos, de Rubem Braga. Os livros não são para serem lidos apenas como historinhas que você deve saber. Não cai só enredo no vestibular, mas também a interpretação crítica dos trechos e do texto. As perguntas também incidem sobre como o poeta escreveu e você tem que explicar o uso de certos termos gramaticais.
Então a leitura não é só historinha, não!
É a crítica, é não ser ingênuo perante a idéia do texto.
Vamos lembrar aqui só João Cabral de Melo Neto, que pertence à geração de 45, o terceiro tempo modernista. É uma geração que vai aliviar o poema do sentimentalismo, classificada como "a geração com senso de medida". Morte e Vida Severina conta a história de um percurso feito por Severino, que sai da morte para alcançar a vida, mas essa vida é presidida pela morte. Aparece aí a coisificação injusta do homem, que João Cabral de Melo Neto está relatando para nós, leitores.
Leiam o livro - é fácil de ler, muito interessante, e vai acrescentar muito à vida de vocês.
Por Ivian Lena DestraDo Cursinho da Poli

Qual a ligação entre a Literatura e a Produção textual? Há uma ligação que facilita muito para que você consiga adquirir as competências necessárias..

Entenda as competências da prova de redação (Enem)
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é um poderoso instrumento de auto-avaliação - desde que sejam devidamente compreendidas as habilidades e competências por ele definidas como necessárias àqueles que freqüentaram a escola por 11 anos ou mais. O Enem permite aos que concluíram ou estão para concluir o ensino médio identificar aquelas competências que já dominam e aquelas que ainda precisam desenvolver melhor.
Assim, o intuito aqui é auxiliá-lo nessa tarefa muitas vezes complicada de entender, mais especificamente, ao que se refere a prova de redação do Enem, a fim de melhorar ainda mais seu desempenho.
A importância da prova de redação encontra-se no fato de ela corresponder à metade do valor total da média final do exame e de não somente a escola, mas também a sociedade, de modo geral, exigir sujeitos cada vez mais capazes de produzir textos escritos de modo objetivo e coerente.
Situação-problema
O Enem exige que o candidato redija um texto do tipo dissertativo-argumentativo, cujo tema se relacione a questões sociais, políticas, culturais e/ou científicas, a partir de uma situação-problema. É automaticamente desconsiderada para correção pela banca avaliadora a redação que se afastar do tema proposto ou for de encontro aos direitos humanos e à cidadania.
São cinco as competências avaliadas na prova de redação, conforme se verifica a seguir. Para você compreender melhor qual o significado dessa matriz de competências, procuramos explicar, de maneira mais clara, cada um dos itens que a compõem. São elas:
1. Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita
Você não precisa escrever como Machado de Assis ou Gilberto Dimenstein! Porém, é necessário demonstrar um conhecimento mínimo de regras básicas de escrita na nossa língua, supostamente aprendidas em 11 anos ou mais de escolaridade.
Por exemplo, atentar para a pontuação é essencial, pois uma vírgula ou ponto final no lugar errado pode comprometer o sentido do seu texto e dificultar a compreensão por parte do leitor (no caso, o avaliador da banca de correção). Além do sentido, é importante lembrar que o respeito às normas gramáticas, ainda que não seja o requisito mais importante na construção do sentido do texto, demonstra algum grau de conhecimento a respeito da língua e isso pode contar a seu favor.
2. Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo
A compreensão da proposta de redação já é o primeiro passo para que você possa se sair bem na prova, uma vez que o desenvolvimento do tema apresentado torna-se muito mais tranqüilo e não há o risco de seu texto ser desconsiderado pela banca de correção. Além de disso é preciso lembrar de que se trata de um texto em prosa (ou seja, você não pode escrever um poema), do tipo dissertativo-argumentativo, o que significa adotar um posicionamento crítico e reflexivo diante de determinada questão ou expressar sua opinião de modo claro e coerente.
Para isso, é essencial valer-se de seu conhecimento de mundo, uma vez que se torna muito mais difícil elaborar um texto sobre algo que você nunca ouviu falar. Daí a importância da leitura de textos diversificados, sobretudo os jornalísticos, para que você tenha o que dizer em sua redação.
3. Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
Não basta apresentar dados e informações ou mesmo expressar sua opinião ou expor argumentos se você não for capaz de selecionar, dentre estes, aqueles que de fato apresentam pertinência com o tema proposto.Ademais, além de uma seleção criteriosa de dados, informações e argumentos, é primordial saber organizar as idéias a partir deles e apresentar a sua interpretação para a situação-problema em questão, estabelecendo relações lógicas e coerentes e fazendo a sua leitura da realidade, a fim de demonstrar seu ponto de vista em relação ao tema proposto.
4. Demonstrar conhecimento dos mecanismos lingüísticos necessários para a construção da argumentação
Além da seleção adequada dos argumentos, conforme ressaltado no item anterior, faz-se necessário organizá-los no texto de modo lógico e coerente. Para isso, é fundamental utilizar os chamados elementos de coesão textual e/ou os organizadores argumentativos, como, por exemplo, advérbios, locuções adverbiais e conjunções, estabelecendo relações adequadas entre termos e também entre os parágrafos, sobretudo no desenvolvimento do texto, a fim de que o sentido seja construído de maneira clara e objetiva. É preciso, ainda, saber utilizar um repertório lingüístico ou vocabular adequado ao tema e aos objetivos do texto. Isso não significa, em hipótese alguma, valer-se, de maneira desenfreada, de termos e/ou expressões considerados mais rebuscados ou eruditos a fim de impressionar a banca de correção.Lembre-se de que os membros dessa banca são professores de português e já estão bastante acostumados às táticas e "truques" dos candidatos. De nada adianta valer-se desse tipo de artifício para impressioná-los. Assim, é fácil perceber que o vocabulário escolhido deve ser simples e direto e atender aos objetivos do texto.
5. Elaborar proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Partindo-se de uma proposta de redação que apresenta uma situação-problema, é possível concluir que toda a construção da argumentação deve ter como objetivo a apresentação de possíveis soluções para a questão levantada. A solução, ou soluções, porém, deve resultar de uma relação lógica e coerente com os argumentos, opiniões, informações e dados apresentados no desenvolvimento.
Ademais, embora seja muito difícil que isso ocorra - até porque muitas formas de preconceitos e/ou desrespeito aos valores humanos recebem hoje algum tipo de sanção legal -, é aconselhável cautela diante de seu posicionamento a respeito de determinadas questões consideradas o "tendão de Aquiles" das sociedades contemporâneas. Por exemplo, o preconceito racial, social e/ou religioso, a prática de tortura ou a apologia à violência de qualquer espécie.
A razão é óbvia: idéias e/ou concepções retrógradas e pouco ortodoxas acerca desses temas vão contra as muitas conquistas, sociais, políticas e culturais sedimentadas depois de décadas ou até mesmo séculos de luta por justiça social e respeito à integridade humana.
Esperamos que esse breve esclarecimento sobre as competências avaliadas na prova de redação do Enem lhe permita, a partir de agora, perceber melhor aquelas cujo desempenho já se encontra satisfatório ou muito bom e aquelas que ainda merecem mais atenção e mais dedicação da sua parte.
(* Nilma Guimarães é formada em letras clássicas e vernáculas pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Cursa o mestrado em educação pela Faculdade de Educação da USP, na área de metodologia do ensino de língua portuguesa. Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação. Alunos realizam Exame Nacional do Ensino Médio / Divulgação/TVE.).
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Conseguiu perceber a ligação que há entre a Literatura e a Produção Textual?
Há como escrever, criar sem ter um conhecimento mínimo dos assuntos tratados e solicitados?

Análise da obra A HORA DA ESTRELA de Clarice Lispector

Escritora nascida na Ucrânia mas radicada no Brasil desde criança, Clarice Lispector (1920 - 1977) é um caso ímpar na literatura nacional, já que sua abordagem intimista, questionadora sobre os tênues limites entre a ficção e a realidade - e sobre o próprio ato de escrever -, surge numa época em que predominava o romance regionalista, com denúncias sociais sobre a vida no Nordeste.O impacto de sua prosa foi tamanho, que a escritora e filósofa francesa Hélène Cixous chega a dividir a literatura brasileira em dois momentos: A.C. (Antes da Clarice) e D.C. (Depois da Clarice). O último livro da autora, publicado no ano de sua morte, aparentemente narra apenas o sofrimento da migrante alagoana Macabéa no Rio de Janeiro.
A estrutura, porém, é bem mais complexa. Há, no texto, um tripé: a vida comum e sem graça de Macabéa; a história do narrador Rodrigo; e a reflexão dele sobre a escritura. A habilidade de Clarice está em articular esses planos de uma maneira que não dificulta a leitura ou deixa o texto empolado ou pernóstico.
Sonhadora e ingênua, Macabéa é o retrato da saga sem glamour de uma brasileira perante um outro Brasil, que ela desconhece. Seu namoro com Olímpico de Jesus, nome pleno de ironia, já que ele não tem nada das poderosas divindades gregas que habitavam o Monte Olimpo e muito menos do lado humano da Santíssima Trindade católica, não tem futuro algum.
Ascensão social
Macabéa é trocada por Glória, colega de trabalho que, por ter um pai açougueiro, parecia oferecer ao também nordestino Olímpico uma possibilidade de ascensão econômica e social. A desilusão afetiva soma-se a uma progressiva degradação do corpo, causada por uma tuberculose.
É justamente Glória, outro nome bastante crítico, já que ela pouco tem para ser glorificado, que aconselha a deprimida Macabéa a encontrar uma orientação para a sua vida, aparentemente sem sentido, numa cartomante, Madame Carlota, que anuncia um futuro pleno de felicidade com um estrangeiro.
Mercedes-Benz
Ao sair desse encontro, com a cabeça literalmente nas nuvens, Macabéa é atropelada por um Mercedes-Benz. Termina assim uma existência em que predomina um grande vazio existencial, contada com momentos que evocam James Joyce, na forma como trata livremente a narrativa, e Virginia Woolf, no que diz respeito à maneira de enfocar a riqueza interior feminina.
Em sua sofisticada aula de escritura, a autora cria a saga de um personagem que, se, por um lado, alerta para o drama social da migração, acima de tudo, constrói um exercício do próprio ato de escrever e dos limites entre criador (Clarice), narrador (Rodrigo) e personagem (Macabéa), um triângulo marcado pelo constante questionamento existencial.
A estrela do símbolo da Mercedes funciona de maneira metafórica, pois causa a morte da protagonista. Por outro lado, é apenas com a sua morte que Macabéa consegue dar destaque a sua vida, com seu corpo desfalecido no meio da rua. Morta, torna-se estrela por um dia. A sua hora de aparecer chegou, melancólica, como toda a sua existência.
Oscar D'Ambrosio, jornalista, mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é crítico de arte e integra a Associação Internacional de Críticos de Artes (Aica - Seção Brasil). *Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

MACUNAÍMA E A FORMAÇÃO DE UMA CULTURA BRASILEIRA (Fábio Della Paschoa Rodrigues)

“A tentativa de implantação da cultura européia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em conseqüências. (...) Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas idéias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. (...) Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.” (Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil)

INTRODUÇÃO
O movimento modernista da década de 20 ambicionava tornar o Brasil uma nação com forma própria, conquistando nossa individualidade cultural e um lugar no “concerto das nações”, como dizia Mário de Andrade. Nessa tarefa, o autor modernista, baseando-se em certas teorias históricas e filosóficas, empenhou-se em produzir um trabalho que afirmasse a entidade nacional e assim criou o seu Macunaíma.
Neste trabalho, discutiremos questões nacionais levantadas por Macunaíma e as influências e analogias entre a obra de Mário de Andrade e algumas das grandes teorias históricas, particularmente as de Herder, Spengler e Keyserling. Além disso, transportaremos as imagens macunaímicas para nossa realidade atual “globalizada”, fazendo um pequeno paralelo entre Macunaíma e o Brasil dos anos 90 do século XX.

AS INTENÇÕES DE MACUNAÍMA
Como o próprio Mário declarou, ele teve muitas intenções ao escrever Macunaíma, tratando de diversos problemas brasileiros: a falta de definição de um caráter nacional, a cultura submissa e dividida do Brasil, o descaso para com as nossas tradições, a importação de modelos socioculturais e econômicos, a discriminação lingüística etc. Mas a principal preocupação de Mário de Andrade foi buscar uma identidade cultural brasileira. O Brasil na época (e também hoje) não tinha “competência” para desenvolver uma cultura autônoma e toma emprestado modelos europeus, que não se adaptam ao nosso clima quente. A nossa cultura, então, deveria ser distinta das outras e possuir, por outro lado, uma totalidade racial; deveria provir das raízes que aqui haviam, das culturas populares existentes nos recantos do país. O Brasil, como entidade cultural, seria construído pela mistura de todas essas culturas (orais) de cada região brasileira. É justamente o que o escritor faz em Macunaíma: compõe a sua rapsódia reunindo lendas, folclores, crendices, costumes, comidas, falares, bichos e plantas de todas as regiões, não se referindo a nenhuma delas, misturando inclusive as diversas manifestações culturais e religiosas, dando assim um aspecto de unidade nacional, que não condiz com a realidade dividida de nossa cultura. Referindo-se a essa “desgeografização”, Mário de Andrade anota num de seus prefácios inéditos:
“Um dos meus interesses foi desrespeitar lendariamente a geografia e a fauna e flora geográficas. Assim desregionalizava o mais possível a criação ao mesmo tempo que conseguia o mérito de conceber literariamente o Brasil como entidade homogênea = um conceito étnico nacional e geográfico.”
Comentando esse esforço de juntar os elementos constitutivos do ser nacional, Eduardo Jardim de Moraes (In: Berriel, 1990) nota que:
“Na composição de Macunaíma e em seus escritos críticos da época nota-se o cuidado rigoroso de efetuar o levantamento do material que torna possível traçar o perfil do Brasil. Era intenção de Mário de Andrade, em sua perspectiva analítica, ao justapor os variados elementos culturais presentes na esfera nacional, chegar à definição de um elemento comum que qualificasse todos como pertencentes ao mesmo patrimônio cultural.”
Para Mário de Andrade, a modernização brasileira, isto é, a conquista de uma identidade cultural só seria possível se tomássemos consciência de nossas tradições. Em entrevista concedida em 1925, o escritor afirma que “ toda tentativa de modernização implica a passadização da coisa que a gente quer modernizar”. Vai mais além: “nós só seremos de deveras uma Raça o dia em que nos tradicionalizarmos integralmente e só seremos uma Nação quando enriquecermos a humanidade com um contingente original e nacional de cultura”. Macunaíma é, portanto, uma tentativa de modernizar o Brasil através do passado, de nossas tradições; é também a tentativa de fundar a raça brasileira, estreitamente ligada ao seu ambiente geográfico, ao seu clima.
Todas essas intenções macunaímicas tomam por base conceitos de raça e cultura construídos pela filosofia européia, particularmente a alemã. Ele como que tomou emprestado certos conceitos, mas adaptando-os ao nosso clima quente. Passemos então, a analisar os pontos de convergência entre sua obra e as teorias históricas.

MACUNAÍMA E AS TEORIAS HISTÓRICAS
Comecemos analisando as relações entre a obra andradiana e o pensador alemão Johann Gottfried Herder (1744-1803). Para Herder, a característica mais importante da história é a pluralidade e a individualidade das nações, justamente o que buscavam nossos modernistas.
Apesar de não haver material comprovando que Mário de Andrade leu Herder – conforme aponta C. E. Berriel (1987), as idéias deste pensador são claramente notadas na obra do escritor (que podem ter vindo através de Spengler ou do Romantismo brasileiro, ambos influenciados por Herder). O filósofo acreditava que “a literatura de uma nação deve ser verdadeira para com as tradições e o caráter íntimo da mesma nação, e a sua atitude para com a natureza” (Gardiner, 1995). Ora, Macunaíma é esta literatura: busca resgatar as tradições folclóricas brasileiras e afirmar um caráter nacional (que, para Mário, supostamente não há). O pensamento herdiano enfatiza os conceitos de caráter nacional e de meio ambiente, em que há uma unidade entre geografia, cultura e raça. Lendo atentamente Macunaíma, percebemos que Mário de Andrade utiliza todos esses conceitos em seu livro: nosso herói adquire características adequadas ao meio em que vive, ao seu espaço geográfico (que depois abandonará como sabemos), ele é a tentativa de fundar a raça brasileira a partir das “três raças tristes” que dão origem ao brasileiro e, mais ainda, é a possibilidade da criação de uma cultura nacional autêntica.
O escritor modernista partilhava da mesma idéia de que a paisagem está dentro do ser humano, como experiência coletiva ou individual de estar em um determinado lugar, a natureza captada pelos sentidos. Na concepção de Herder, o homem se origina a partir e dentro de uma raça, que está intrinsecamente ligada à paisagem, como ele ilustra em uma metáfora:
“Tal como a água de uma nascente recebe do solo donde brota a sua composição, as suas qualidades atuantes e o seu sabor, assim o antigo caráter dos povos proveio de traços raciais, do clima, do tipo de vida e da educação, das ocupações primitivas e das ações peculiares a cada um desses povos.”
Neste sentido, Mário traduz literariamente a filosofia de Herder. Ele acreditava que deveríamos construir uma cultura, em sentido amplo, adaptada ao nosso clima, à nossa paisagem. Em resposta a um questionário da Editora Macaulay, em 1933, Mário declarou: “Tanto o meu físico como as minhas disposições de espírito exigem as terras do Equador. Meu desejo é ir viver longe da civilização, na beira de algum rio pequeno da Amazônia...” Ele acreditava que a preguiça era uma necessidade para os povos de clima quente como o Brasil, já que o “trabalho semanal e de tantas horas diárias” era coisa de civilizações cristãs de clima frio.
Mário de Andrade problematiza em Macunaíma as idéias de Herder segundo as quais o destino de um povo “depende primordialmente do tempo e do lugar em que nasce, das partes que o compõem e das circunstâncias exteriores que o rodearam”. Para a formação da entidade nacional é necessário superar todos esses obstáculos que se impõem diante do herói: primeiramente ele não tem caráter, não é ligado ao seu meio geográfico (que, inclusive, renega ao final do livro), as partes (raças) que o compõem são conflitantes com a opressão do componente europeu, o tempo em que o Brasil vive passa por um período de transição, início da industrialização nacional. Verificamos vários outros obstáculos que nosso herói encontra e que tem relação com a teoria herdiana. Herder acreditava que os povos incultos adquirem conhecimentos pela prática ou pelo intercâmbio com outros, mas Macunaíma (o Brasil, na verdade) só importa conhecimento, não troca, ou quando o faz troca “borboletas” por “idéias”, isto é troca o “exótico” pelo “civilizado”. Ainda para ele, os povos permanecem ligados entre si, influenciando uns aos outros, de acordo com a relação de maior ou menor poder, em que o país submisso é subjugado pelo opressor; o Brasil, nessa relação é quase totalmente submetido à cultura cristã européia e não tem forças para influenciar esse continente. Enfim, o Brasil só se consolidaria como entidade cultural se crescesse das próprias raízes, como preconizava o filósofo alemão. Macunaíma, ao invés disso, abandona suas raízes e se rende ao clima frio europeu, desprezando suas tradições e renegando sua paisagem tropical.
Para Herder a história de um povo é orgânica (como também para Spengler, como veremos mais adiante): “uma nação, tal qual o homem, crescerá e morrerá, inevitavelmente”. Mário de Andrade descreve literariamente a nossa história orgânica, desde o nascimento da possível cultura brasileira até seu quase desenvolvimento e enfim sua morte, ou seja, a vida de Macunaíma.
A influência de Oswald Spengler (1880-1936), outro pensador alemão, na obra de Mário de Andrade é patente e reconhecida. Mário leu e se inspirou na obra “A decadência do Ocidente” e em diversas passagens de Macunaíma reconhecemos imagens spenglerianas.
Segundo P. Gardiner (1995), Spengler dá preferência “ao instinto, em oposição ao entendimento, à vida no campo em oposição à vda na cidade, a fé e o respeito pela tradição em oposição ao cálculo racional e ao interesse próprio, à intuição e à imaginação em oposição à análise e ao método científico”. Ainda para Spengler, “uma cultura nasce no momento em que uma grande alma despertar do seu estado primitivo e se surpreender do eterno infantilismo humano; quando uma forma surgir em meio do informe; quando algo limitado, transitório, originar-se no ilimitado, contínuo. Floresce então no solo de uma paisagem perfeitamente restrita, à qual se apega, qual planta”. Isto é, com algumas modificações, a descrição de Macunaíma.
Vejamos: Macunaíma é essa alma adormecida que nasce do ilimitado (o “silêncio tão grande”) no “fundo do mato virgem”, portanto, muito longe da cidade; ele usa sua mágica (intuição) para agir e prever as coisas. Mas nosso herói ficará para sempre “carinha enjoativa de piá”, pois enganara as tradições folclóricas, que ora defende ora se afasta delas (defende o Pai do Mutum mas foge de Capei); age sempre por interesse próprio, não tem caráter; e não se apega “qual planta” à sua paisagem.
Percebemos no livro as diversas oposições levantadas por Spengler: destino x causalidade, cultura x civilização, história x natureza, crescimento e vida x decadência e morte. Aliás, a oposição principal de Macunaíma não é a do herói com o gigante Venceslau Pietro Pietra, mas sim a oposição entre a mata tropical e a cidade temperada, ou seja, a oposição entre cultura (tradição) e civilização, que é oposição básica de Spengler.
No percurso do “herói de nossa gente”, Mário tenta construir a cultura brasileira, segundo os conceitos de Spengler, para quem “as massas de seres humanos fluem numa corrente sem obstáculos, da qual surge de vez em quando a Kultur autoconsciente”; porém, a falta de caráter do herói não possibilita o surgimento da cultura brasileira. Além disso, o herói de nossa gente encontra obstáculos na sua vida, quando está se desenvolvendo: ele se depara com o roubo da muiraquitã (cultura brasileira) pelo gigante Piaimã – o Brasil ao tentar construir sua unidade cultural encontra a Europa no meio do percurso.
Assim como para Herder, Spengler acredita que a força da cultura depende das raízes, da adaptação à terra, à afinidade com a natureza e a consolidação da raça. Para ele, “a História Mundial é a história da ascensão e queda de nações e raças”. E a raça é uma questão de um “sentimento comum” que une gerações sucessivas num todo. Spengler, como já dito, construiu uma concepção orgânica de história e foi além de Herder, supostamente prevendo o destino de todas as civilizações. Outro ponto de concordância entre os dois filósofos era a afirmação de que cada cultura tem o seu caráter específico ou “alma”. Na visão spengleriana “cada cultura tem as suas possibilidades de expressão, que surgem, amadurecem, decaem e não voltam a se repetir”. Já vimos que Mário utiliza essas idéias em seu livro, contando a vida do herói brasileiro, na verdade a vida da cultura brasileira.
Mário também crê na concepção spengleriana de que a indústria (o estágio mais avançado da civilização) é o grande inimigo da Natureza. Ela destrói as nações, as culturas nacionais. A máquina altera a relação do homem com a Natureza, interpondo-se entre eles. Macunaíma se vende às máquinas, quase se tornando uma, e assim frustra-se a tentativa de se estabelecer uma cultura nacional. O herói, como não tem caráter, é facilmente comprado pelas atrações da máquina, esquece a natureza, renega as tradições. Na cidade não há espaço para o sagrado, pois “isso de deuses era gorda mentira antiga” como diz uma “filha da mandioca” para o herói. A máquina não era deus e ninguém podia brincar com ela , pois ela matava. Ao refletir sobre máquinas e homens, Macunaíma chega à conclusão de que “os homens é que eram máquinas e as máquinas é que eram homens”. Nesse momento, nosso herói começa a maquinar, ele absorve a civilização pois não tem caráter.
Na cidade não há povo, mas uma massa. A cidade-máquina devora os homens e Macunaíma também é devorado por São Paulo. Ele não consegue mais viver e, outro solo que não esse, petrificado; a mata já lhe é estranha e monótona, ele não compreende mais o silêncio que o originou. Assim, Macunaíma, nas palavras de Spengler, “leva a cidade constantemente comsigo (...) perdeu o campo em seu interior e nunca mais o encontrará no mundo de fora”.
A gênese das culturas, na teoria spengleriana, é representada pelo mundo rural, o urbano é a corporificação da decadência das civilizações; a civilização “é um epílogo, a morte seguindo-se à vida, a rigidez seguindo-se à expansão (...) o mundo-cidade petrificante seguindo-se à mãe-terra.”. Macunaíma, rendendo-se à civilização, entra em decadência, petrifica-se e vê São Paulo se petrificar. Mário constrói uma imagem magnífica: para ele, São Paulo deveria se preocupar com o exercício da preguiça, mas como não tem caráter, ela se transforma em um imenso bicho preguiça de pedra.
Mas a cultura brasileira não morre de todo. Mário, de certa forma, acredita no Brasil e deixa, no final do livro, a possibilidade de construirmos a nossa cultura: Macunaíma, na verdade, não morre, sobe para o campo vasto do céu, vira tradição, que poderá ser resgatada e transmitida (como aliás, é transmitida ao próprio Mário no Epílogo).
Essa visão otimista com relação à formação de uma nação brasileira, Mário deve a Keyserling, único pensador que teve sua influência creditada explicitamente, num dos prefácios inéditos.
Na concepção de Keyserling, o homem é uma entidade real que se manifesta através de criações culturais. A teoria dele, assim como a de Herder, afirma o particularismo das culturas e ao mesmo tempo seu lugar universal. O conceito de cultura keyserlinguiano está relacionado a um passado vivo e a cultura “é a forma da vida, como imediata expressão do espírito (...) é obrigação com relação a um passado vivo, (...) é exclusiva e, portanto, estritamente limitada no exterior; é essencialmente unitária, pelo que cada coisa particular nela pressupõe e alude à totalidade” (que, enfatizamos, é o conceito utilizado pelos modernistas de 20). Mas, diferentemente de Spengler, para ele “todas as culturas tradicionais do planeta estão em decadência”, não só a civilização ocidental. Mas se Keyserling considera que todas as culturas tradicionais estão em decadência, porque centradas “no irracional, no impulsivo” – que é intransferível e, assim, não dando continuidade à cultura, por outro lado, a cultura pode ser perpetuada através de tradições vivas.
Mário compartilhava do otimismo de Keyserling, que acreditava que a tradição viva era a via de transmissão da cultura, a despeito da decadência inevitável das civilizações. Por isso Macunaíma, apesar de ter perdido a muiraquitã (a cultura brasileira) vira constelação (tradição). Ou seja, agora ele se transformou em instrumento de transmissão do que poderia vir a ser a entidade brasileira. O projeto andradiano, portanto, pode ser resgatado pelas gerações futuras.
Para Keyserling uma nova cultura se desenvolve “quando da mescla se origina o equivalente a uma nova raça definida”. Esse postulado permite Mário de Andrade conceber a gênese da Raça brasileira, criando seu herói a partir da mescla das três raças tristes (índio, branco e negro). Nosso herói, infelizmente como sabemos, deixa que sua porção branca oprima as outras e se vende à civilização decadente, não definindo uma nova Raça. Cabe ressaltar aqui que a porção branca de Macunaíma – vinda dos portugueses – já era mestiça e não se constituía como Raça; citando Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil: os portugueses apresentavam “ausência completa, ou praticamente completa de qualquer orgulho de raça (...) Essa modalidade de seu caráter explica-se muito pelo fato de serem os portugueses um povo de mestiços”.
Mário de Andrade encontra outro ponto de apoio em Keyserling, com relação à aversão à industrialização nascente, ao capitalismo verdadeiro, como nota C.Berriel (1987):
“Keyserling oferece uma alternativa “não-burguesa” de leitura da realidade histórica, ao rejeitar a economia e a materialidade como formas explicativas. Assim, a crise da sociedade contemporânea pôde ser vista, tanto por Spengler e Keyserling, como por Mário de Andrade, como uma crise da cultura pura e simplesmente”.
Todas essas postulações keyserlinguianas deram base para que Mário criasse seu “poema fundador” da raça brasileira ligada à paisagem tropical, e, por conseqüência, desenvolver a cultura brasileira. Ao pessimismo de Spengler, Mário prefere a possibilidade keyserlinguiana de manter a tradição brasileira viva, na esperança de que ela venha a se despertar novamente; por isso mesmo é que escuta do papagaio a vida do herói de nossa gente e nos transmite.

AS IMAGENS MACUNAÍMICAS E O BRASIL ATUAL
À luz das idéias e conceitos expressos em Macunaíma, transportaremos algumas de suas imagens para o Brasil da era globalizada. A intenção aqui não é aplicar uma teoria histórica (ou sua releitura literária) à atualidade brasileira, nem fazer uma crítica aprofundada sobre a cultura brasileira nos dias de hoje; para isso, seriam necessárias pesquisa e análise mais aprofundadas. A intenção é mostrar pontos de contato entre obra de Mário de Andrade e nosso atual contexto cultural e econômico, é também mostrar que a tradição macunaímica se faz sentir em nossos dias, com as mesmas questões que preocupou os modernistas na década de 20.
A Globalização implica na anulação da identidade nacional dos povos. Ela supostamente unificaria todas as nações o que, na verdade, levaria à perda da identidade cultural de cada nação. Neste sentido, a nova caminha para um objetivo contrário ao das teorias de Herder, Keyserling e da proposta modernista, em que a cultura se afirma como nação pela sua particularidade. O mundo globalizado não admite tradições e particularidades, num momento em que a palavra de ordem é “comunicação”. Comunicação virtual, a informação em alta velocidade através da máquina computador. Uma tribo africana sem e-mail ou home page ficará obsoleta, entrará em decadência, muito mais rapidamente que as civilizações preconizadas por Spengler. A civilização conquistou de tal forma uma técnica apurada – as novas tecnologias, que aceleram desenfreadamente o desaparecimento da cultura tradicional, como dizia Keyserling.
A cultura brasileira, seduzida por essa Uiara, está cada vez mais enxertada de estrangeirismos, que passaram a ser considerados como agregados culturais que contribuiriam para o enriquecimento de nossa “cultura”. O povo (quer dizer, a massa) não se dá conta muitas vezes de que essas “contribuições” na verdade fazem parte de um processo de “lavagem cerebral” das nossas tradições, que a influência cultural e econômica continua sendo unilateral. Não há fluxo de troca entre Brasil e a nova civilização ocidental hegemônica, os Estados Unidos, por exemplo; exportamos “futebol” e importamos “tecnologia”. Cada vez mais nossa realidade é afetada pela bolsa de Nova Iorque, de Tóquio, de Hong Kong etc... Cada vez mais a nossa cultura se rende a enlatados norte-americanos, mexicanos, argentinos... pois a produção nacional (quer seja cultural, social, econômica) não tem valor.
O atual herói se vendeu muito mais facilmente à civilização que o Macunaíma. O novo herói de nossa gente é o Sr. Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (FHC) que, assim como Macunaíma, não tem caráter: lutou contra a ditadura militar mas entrega agora o país ao capital estrangeiro; diz estar ao lado do povo, mas no capítulo seguinte declara que os aposentados são vagabundos e aprova um plano de previdência que prejudica os trabalhadores; diz defender os pobres para depois salvar bancos privados da falência, despendendo cifras milionárias e cobra mais impostos dos cidadãos. Ele esquece nossas “tradições” e vende nosso petróleo, nossa energia, nossas telecomunicações para os civilizados europeus e norte-americanos. Os gigantes Piaimãs ACM, Tio Sam, FMI querem devorar nosso herói que, para se salvar (entenda-se: salvar a si próprio, não a nação) se transforma em Superman ou Tio Patinhas usando sua “mágica”. A Uiara Globalização seduziu nosso herói por completo, sem a hesitação de Macunaíma.
Percebemos que há várias semelhanças entre as aventuras macunaímas e as aventuras de FHC. Talvez Mário de Andrade, Spengler e Keyserling tenham razão e a depender do novo herói, nosso quadro confirmará as teorias aqui comentadas, reiterando o que Sérgio Buarque de Holanda declarou em seu Raízes do Brasil: “somos uns desterrados em nossa terra”.


BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Mário de. Entrevistas e Depoimentos. Edição organizada por Telê Porto Ancona Lopez. São Paulo: T. A. Queiroz, 1983.
__________. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter – Edição crítica de Telê Porto Ancona Lopez. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978.
__________. O Turista Aprendiz. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1983.
BERRIEL, Carlos Eduardo (org.). Mário de Andrade hoje. São Paulo: Ensaio, 1990.
________. Dimensões de Macunaíma: Filosofia, Gênero e Época. Tese de Mestrado, UNICAMP, 1987.
GARDINER, Patrick. Teorias da História. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995.
HERMAN, Arthur. A idéia de decadência na história ocidental. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999. Cap.7
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1971.
LOPEZ, Telê Porto Ancona. Macunaíma: a margem e o texto. São Paulo: Hucitec, Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo, 1974.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Macunaíma
Brasil 1969 ı cor ı 108 min
Direção Joaquim Pedro de Andrade
Elenco Grande OteloPaulo JoséDina SfatMilton GonçalvesJardel FilhoRodolfo Arena
Roteiro/Guião Mário de Andrade
Género: comédia
Idioma: português
IMDb

Macunaíma é um filme brasileiro, de 1969, do genero comédia, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, e baseado na obra homônima de Mário de Andrade. O roteiro foi escrito pelo próprio diretor; a trilha sonora é Jards Macalé, Orestes Barbosa, Silvio Caldas e Heitor Villa-Lobos; a fotografia, de Guido Cosulich e Affonso Beato; o desenho de produção, de Anísio Medeiros, os figurinos, de Anísio Medeiros e a edição, de Eduardo Escorel. Macunaíma é um dos grandes personagens da carreira de Grande Otelo e traz um elenco de atores renomados.
-ATIVIDADE PROGRAMADA:
Qual a relação do filme Macunaíma com as obras medievais? Por que é considerado semelhante a elas? Faça um levantamento das principais características dos momentos literários estudados e compare com as do filme para compreender as semelhanças entre eles (cónteúdo, características linguísticas e literárias).