Atividade 2 EJA - Nov.2007

TEMA: O REALISMO

Estudamos o Barroco, Arcadismo e Romantismo, movimentos literários que, cronologicamente deixaram suas marcas em diferentes áreas...
Vamos agora estudar o Realismo e suas nuances. Como o próprio nome sugere, nele nota-se haver uma tendência para se retratar o que se sente e vê. Após a rápida exposição do tema, faça as leituras teóricas indicadas e disponíveis no Blog. Vamos levantar juntos os principais pontos desses movimentos literários para aprofundarmos nosso conhecimento sobre o assunto. O Realismo, o Naturalismo, o Parnasianismo...

Leia o slide - 7o Período Literário, disponível no Blog....

1. Produza um resumo de tudo isso que estudou (produção individual).

Agora quero que vivam o “Realismo”!
- Escolha um colega, fique um de frente para o outro e fale uma palavra de diferentes maneiras, com emoção. Ex: Quieto! Quieto....
Note que a maneira de falar, a transmissão, expressão corporal, facial, a entonação de voz etc são fundamentais para a compreensão da comunicação....

Vejam que, inclusive...

“...histórias são irônicas, reveladoras de coisas que todo mundo sabe, mas não comenta... Elas falam de valores morais que todos criticam, mas têm. Quando alguém diz que Machado é "cético", é disso que está falando: esse ótimo escritor não acreditava nas boas intenções, na bondade, na generosidade, no amor romântico, na eterna lealdade”.

Reúna-se com 2-4 colegas e:
2. Debatam o tema estudado, as leituras realizadas (não esqueçam do material teórico e do seu resumo).
2.1. Cada componente do grupo deverá expor aos colegas suas dúvidas, anotações etc.
2.2. Elejam um relator, que deverá elaborar uma “Ficha” com a produção do grupo.
2.3. Preparem uma apresentação à classe (usem para ilustrar: filme, música, slides/cartolina).
Duração: 15´ (acrescentem 5`para esclarecer as dúvidas no final da exposição).
2.4. Produzam uma Dissertação-Argumentativa referente às relações socioculturais do Realismo com a Arte, a Filosofia, História, Geografia etc (outras disciplinas envolvidas).
Ela deverá ter até 15 linhas e deverá fechar a apresentação do Grupo.
2.5. Dividam as tarefas/tópicos da apresentação entre os componentes do grupo.

Exercícios:

3. Preencham as lacunas abaixo:

"Dom Casmurro", de Machado de Assis, teve sua primeira edição lançada em 1900.
Mas Machado , usando seu personagem, ironiza a sociedade em que viviam os ricos
..... desmascarou com sutileza a falsidade de homens e mulheres de sua época.

4. Grifem os adjetivos nos trechos abaixo:

“Para comprovar a falta de preconceito, basta-nos ler alguns contos...Acabamos percebendo que as pessoas são as mesmas, que o mundo da hipocrisia e farsa social não mudou.
Suas histórias são irônicas, reveladoras de coisas que todo mundo sabe, mas não comenta... Elas falam de valores morais que todos criticam, mas têm. Quando alguém diz que Machado é "cético", é disso que está falando: esse ótimo escritor não acreditava nas boas intenções, na bondade, na generosidade, no amor romântico, na eterna lealdade”.

E, por intermédio deles, tentem responder:
O que significou o Realismo para a sociedade da época?

5. Qual a diferença entre uma obra Realista e Parnasiana?
5.1. O que foi o Naturalismo?

6. Lembra-se do gênero textual: Dissertação?
Ela é o tipo de composição na qual expomos idéias gerais, seguidas da apresentação de argumentos que as comprovem.
Exemplo:
Tem havido muitos debates sobre a eficiência do sistema educacional. Argumentam alguns que ele deve ter por objetivo despertar no estudante a capacidade de absorver informações dos mais diferentes tipos e relacioná-las com a realidade circundante. Um sistema de ensino voltado para a compreensão dos problemas socioeconômicos e que despertasse no aluno a curiosidade científica seria por demais desejável.

Não há como confundir estes três tipos de redação. Enquanto a descrição aponta os elementos que caracterizam os seres, objetos, ambientes e paisagens, a narração implica uma idéia de ação, movimento empreendido pelos personagens da história. Já a dissertação assume um caráter totalmente diferenciado, na medida em que não fala de pessoas ou fatos específicos, mas analisa certos assuntos que são abordados de modo impessoal. (Acesso em: http://www.blogger.com/posts.g?blogID=8594654844855850566)

Individual:
- Redija uma dissertação para comprovar seu conhecimento quanto ao tema estudado.

A Poesia Parnasianiana

O parnasianismo é uma escola literária ou estilo de época que se desenvolve na poesia a partir de 1850.

Movimento literário de origem francesa, que representou na poesia o espírito positivista e científico da época, surgindo no século XIX em oposição ao romantismo.
Nasceu com a publicação de uma série de poesias, precedendo de algumas décadas o simbolismo. O seu nome vem do Monte Fócida, a montanha que, na mitologia grega era consagrada a Apolo e às musas, uma vez que os seus autores procuravam recuperar os valores estéticos da Antiguidade clássica.
Caracteriza-se pela sacralidade da forma, pelo respeito às regras de versificação, pelo preciosismo rítmico e vocabular, pela rima rica e pela preferência por estruturas fixas, como os sonetos. O emprego da linguagem figurada é reduzido, com a valorização do exotismo e da mitologia. Os temas preferidos são os fatos históricos, objetos e paisagens. A descrição visual é o forte da poesia parnasiana, assim como para os românticos são a sonoridade das palavras e dos versos. Os autores parnasianos faziam uma "arte pela arte", pois acreditavam que a arte devia existir por si só, e não por subterfúgios, como o amor, por exemplo.
O primeiro grupo de parnasianos de língua francesa reúne poetas de diversas tendências, mas com um denominador comum: a rejeição ao lirismo como credo. Os principais expoentes são Théophile Gautier (1811-1872), Leconte de Lisle (1818-1894), Théodore de Banville (1823-1891) e José Maria de Heredia (1842-1905), de origem cubana, Sully Prudhomme (1839-1907). Gautier fica famoso ao aplicar a frase “arte pela arte” ao movimento.

Características gerais

Objetividade e impessoalidade
O poeta apresenta o fato, a personagem, as coisas como são e acontecem na realidade, sem deformá-los pela sua maneira pessoal de ver, sentir e pensar. Esta posição combate o exagerado subjetivismo romântico.
Arte Pela Arte: A poesia vale por si mesma, não tem nenhum tipo de compromisso, e justifica por sua beleza. Faz referencias ao prosáico, e o texto mostra interesse a coisas pertinentes a todos.
Estética/Culto à forma - Como os poemas não assumem nenhum tipo de compromisso, a estética é muito valorizada. O poeta parnasiano busca a perfeição formal a todo custo, e por vezes, se mostra incapaz para tal. Aspectos importantes para essa estética perfeita são:
Rimas Ricas: São evitadas palavras da mesma classe gramatical. Há uma ênfase das rimas do tipo ABAB para estrofes de quatro versos, porém também muito usada as rimas ABBA.
Valorização dos Sonetos: É dada preferência para os sonetos, composição dividida em duas estrofes de quatro versos, e duas estrofes de três versos. Revelando, no entanto, a "chave" do texto no ultimo verso.
Metrificação Rigorosa: O número de sílabas poéticas deve ser o mesmo em cada verso, preferencialmente com dez (decassílabos) ou doze sílabas(versos alexandrinos), os mais utilizados no período. Ou apresentar uma simetria constante, exemplo: primeiro verso de dez sílabas, segundo de seis sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis sílabas, etc.
Descritivismo: Grande parte da poesia parnasiana é baseada em objetos inertes, sempre optando pelos que exigem uma descrição bem detalhada como "A Estátua", "Vaso Chinês" e "Vaso Grego" de Alberto de Oliveira.
Temática Greco-Romana - A estética é muito valorizada no Parnasianismo, mas mesmo assim, o texto precisa de um conteúdo. A temática abordada pelos parnasianos recupera temas da Antiguidade Clássica, características de sua história e sua mitologia. É bem comum os textos descreverem deuses, heróis, fatos lendários, personagens marcados na história e até mesmo objetos.
Cavalgamento ou encadeamento sintático - Ocorre quando o verso termina quanto à métrica (pois chegou na décima sílaba), mas não terminou quanto à idéia, quanto ao conteúdo, que se encerra no verso de baixo. O verso depende do contexto para ser entendido. Tática para priorizar a métrica e o conjunto de rimas.Exemplo:
"Cheguei, chegaste. Vinhas fatigada e triste e triste e fatigado eu vinha."

A importância da pontuação


A Importancia Da Pontuacao


From: Profa.LucileneFonseca, 1 month ago








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Versos, estrofes, métrica

Poesia

O que é poesia? Qual a diferença em relação à prosa? Essas são questões centrais para os estudiosos de literatura. A palavra vem do grego poiésis, criação, fabricação.O poema é uma obra de arte e tem valor permanente. No poema a seguir, o poeta latino Catulo, traduzido por Haroldo de Campos, cantou o amor.
Algumas definições de poesia referem-se à emoção, à beleza, à concisão, à perfeição da elaboração poética, ao sintetizar uma experiência universal. O escritor italiano Umberto Eco define a poesia de uma forma simples e eficaz:"Poesia é aquela coisa que muda de linha antes que a página tenha terminado."
Escritura contínua
O verso, portanto, define a poesia, por oposição à prosa - basicamente, é cada uma das linhas que ocupa a poesia. A prosa é uma escrita contínua, sem pausas, métrica ou ritmo. A prosa é o veículo natural das narrativas, como o conto, a novela ou o romance.Apesar disto, certas obras narrativas, como a Odisséia ou a Ilíada, de Homero, foram escritas em versos. Também existem poemas em prosa. Embora sejam escritos em prosa, têm todas as características da poesia, como os temas, o estilo e a inspiração.
Podemos dizer que o poema é uma obra fechada em si mesma, curta e escrita em versos. O poema tem uma relação direta e intensa com a língua em que é escrito; nele, a informação aparece condensada, o significado está tensionado.
Segundo o poeta norte-americano Ezra Pound, há três grandes formas de a linguagem se carregar de significado:
· Induzindo correlações emocionais pelo som e pelo ritmo ("melopéia");
· Trazendo um objeto para a imaginação visual ("fanopéia");
· Produzindo associações emocionais e intelectuais ("logopéia").
Escrita métrica
O verso é uma escrita métrica. Ele pode ser medido. Nas línguas clássicas, como o grego e o latim, a medida dos versos é indicada pela alternância de sílabas longas e breves. Em português, a medida de um verso é indicada pelo número de sílabas que ele apresenta. Os dois primeiros versos do poema Bilhete, do poeta gaúcho Mário Quintana, apresentam dez sílabas, isto é, são decassílabos. A contagem das sílabas métricas do verso vai apenas até a útlima sílaba tônica do verso.

Estrofe
Um conjunto de versos chama-se "estrofe". Um soneto, por exemplo, é um poema que apresenta quatro estrofes - dois quartetos (estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos). Para conhecer a estrutura interna de um poema, é importante conhecer o número de estrofes e o número de versos em cada estrofe.Os efeitos rítmicos também podem ser obtidos através de rimas, estribilhos, repetições e variações de sons. Há uma infinidade de recursos que criam a sonoridade peculiar de um poema.

Sons e imagens
O poeta se comunica por sons e por imagens. Ele percebe e cria relações entre o que vê, imagina, sente e pensa. Ele estabelece comparações e contrastes e cria imagens e analogias, isto é, procura semelhanças e diferenças entre as coisas. A linguagem poética tem um grande poder de evocação, de criar novas realidades.

Eu lírico
Por fim, é importante lembrar que não é o próprio autor que se expressa no poema, mas sim um "Eu poético" ou "Eu lírico". O Eu poético também é uma criação literária, uma ficção.Mas afinal o que é poesia? O poeta Manuel Bandeira assim se expressou:"Compreendi que a poesia está nas palavras, se faz com palavras e não com idéias e sentimentos, muito embora, bem entendido, seja pela força do sentimento ou pela tensão do espírito que acodem ao poeta as combinações de palavras onde há carga de poesia."

*Heidi Srecker é filósofa e educadora.

Realismo

Contexto histórico do movimento

O realismo surgiu na segunda metade do século 19. Foi essencialmente uma reação ao idealismo da literatura romântica. O próprio romantismo, aliás, surgido no início do mesmo século, já vinha bandonando o idealismo, como se pode ver na obra do francês Victor Hugo, que não apresentava essa tendência em seus livros.Hugo faz denúncias da vida miserável dos pobres na França, em romances que se consagraram, como o célebre "Os Miseráveis".Por esse motivo é importante ressaltar que o realismo reage contra um determinado aspecto do movimento romântico e que o romantismo não deixa de apresentar certo caráter realista, principalmente no que toca a descrição de cenários e costumes.
A vida como ela éOs realistas, entretanto, queriam focalizar os fatos tal qual se apresentavam em seu lado mais sombrio, despindo a ficção da fantasia. Para isso, deslocam o olhar do mundo dos ricos para o mundo dos pobres. Ou ainda, quando fixam o universo burguês, deixam de lado as aparências para procurar as essências, desmistificando as hipocrisias da sociedade.Um exemplo que não pode deixar de ser citado, até por ser o pioneiro, é romance "Madame Bovary" (1857), de Gustave Flaubert, que critica com sutil ironia a hipocrisia da educação sentimental burguesa. A partir daí, a obra literária tornou-se um instrumento de denúncia e crítica social.
Forma e conteúdo
Para isso, foi necessária uma transformação na linguagem, que abandonou o tom sublime das obras românticas, tornando-se mais objetiva e próxima daquela realmente falada pelas personagens focalizadas. Ao mesmo tempo, procurou-se uma utilização da língua nos moldes gramaticais mas clássicos, deixando de lado as inflexões regionalistas que o nacionalismo romântico cultivava.No âmbito do conteúdo, na literatura realista não há heróis: pessoas comuns protagonizam os romances. Os autores estão preocupados em fixar sua psicologia, mostrando o que há por trás de suas ações ou atitudes. Assim escreverão os autores europeus como Flaubert, Dickens, Dostoievski e outros criadores do romance moderno, bem como seus seguidores de Portugal e do Brasil.O realismo e o naturalismo no Brasil têm como marco incial o ano de 1881, com a publicação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, e "O Mulato", de Aluízio Azevedo. Sete anos mais tarde, em 1888, "O Ateneu", de Raul Pompéia, vem se enquadrar no movimento, apesar de apresentar particularidades muito originais.
Contexto sócio-histórico
As duas décadas de vigência do Realismo e do Naturalismo no país foram um período conturbado e de grandes transformações na nossa história social, política, econômica e literária. Entre os fatos mais importantes, podem ser elencados a abolição da escravatura (1888), a Proclamação da República (1889), as revoltas militares, especulação na Bolsa de Valores, o Encilhamento, o surgimento das primeiras escolas de direito, início da entrada de filosofia positivista.Tanta transformação impulsionou a ficção literária, que por sua vez, fez aparecer outras áreas na literatura brasileira, antes quase inexistentes, como textos jornalísticos (José do Patrocínio), crítica literária (José Veríssimo e Araripe Júnior), estudos históricos (Joaquim Nabuco, Oliveira Lima e Capistrano de Abreu), pesquisas culturais e história da literatura (Sílvio Romero), ensaios (Tobias Barreto, Euclides da Cunha), além das crônicas e, principalmente, os contos.Nessa época Machado de Assis fundou a Academia Brasileira de Letras (1897), que segundo os críticos, oficializou a literatura brasileira. Mas o movimento se encerra na primeira década do século 20, com as publicações de "Os Sertões", de Euclides da Cunha, "Canaã", de Graça Aranha, ambos em 1902, e com o surgimento de Lima Barreto, que ainda tem uma obra impregnada das tendências sociais do Realismo, apesar de se encontrar na fronteira, e também ser considerado um pré-modernista.

Machado de Assis (1)

Por que lê-lo?

Machado de Assis nasceu em 1839 e morreu em 1908. Foi um escritor do tempo de dom Pedro 2o. Por que, então, ler as obras de alguém que morreu há quase cem anos? Na verdade, poderíamos dar muitas razões acadêmicas e culturais: ele é o maior símbolo do realismo brasileiro, movimento que introduziu no país; fundou a Academia Brasileira de Letras, era genial, veio das classes baixas etc.
Mas o fato é que a melhor razão as pessoas não dizem: ler Machado é muito engraçado. Suas histórias são irônicas, reveladoras de coisas que todo mundo sabe, mas não comenta... Elas falam de valores morais que todos criticam, mas têm. Quando alguém diz que Machado é "cético", é disso que está falando: esse ótimo escritor não acreditava nas boas intenções, na bondade, na generosidade, no amor romântico, na eterna lealdade.
Máscaras da sociedade
Machado desmascarou com sutileza a falsidade de homens e mulheres de sua época de, sua cidade, de nosso país. Só que as situações e temas de que trata em sua obra são tão universais (amor, adultério, egoísmo, cinismo, apadrinhamentos, pobres e ricos, casamentos por interesse etc), que nosso escritor pode ser lido em qualquer outro país. Ou seja, temos um escritor brasileiro (na época em que havia poucos), tão importante quanto Eça de Queirós, Dostoiévski, Flaubert.
Machado de Assis
não imitava outros escritores, era original. A personalidade desse autor era tão irônica, tão observadora da realidade, que temos o riso de canto de boca a cada frase em que prestamos melhor atenção.Essa conversa de que só entenderemos Machado depois de adultos é besteira. O que existe é falta de ajuda de outros leitores (professores, pessoas mais velhas) para começarmos a ler e apreciar esse escritor universal.
O defunto Brás Cubas
Por exemplo, um de seus mais famosos personagens, o solteirão Brás Cubas, do romance "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881) resolve contar sua vida e seus amores depois da sua morte. Ele está entediado na eternidade, não tem o que fazer, é um defunto que vira autor (é, portanto, um defunto autor e não um autor defunto). Como Cubas quer ser original, diz que vai começar sua história narrando sua morte e não o nascimento. Moisés, o grande Moisés, começou pelo começo, diz ele; para ser original, então, vai começar pelo fim.Perceba: só esse início (a primeira página do romance) já é suficiente para notarmos que esse defunto quer debochar de nós, leitores. E ele vai em frente: diz que havia poucas pessoas em seu enterro, mas um amigo fez um belo discurso à beira de sua cova. Depois, como se não percebesse o que diz, afirma: "Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices" que lhe deixei. Nós, leitores, rimos ao ler a frase, pois está claro que o amigo só fez o discurso (aliás, ridículo, vá ler!) porque havia recebido uma pequena herança. Sugerir o contrário do que de fato diz (ou seja, construir a ironia) é uma especialidade machadiana.
Ironia e linguagem
E nós continuamos a ler o tal romance; com um pouco de irritação com esse narrador estranho e arrogante, mas continuamos. Adiante, Brás Cubas, contando sua juventude (era na verdade um playboy rico e desocupado), apaixona-se por uma prostituta de luxo, com quem gasta muito dinheiro (do pai, é claro). Este ficará furioso, mas Brás Cubas, fingindo certa ingenuidade, nos conta: "Marcela amou-me por quinze meses e onze contos de réis". Esta curta frase é maravilhosa, pois, sem denegrir a moça diretamente, o protagonista nos afirma que o amor dela era profissional, interesseiro, por dinheiro. Marcela não o amava: o autor construiu outra ironia, sugerindo que entendêssemos o contrário do que disse.E esse romance, tão famoso, vai por aí afora. É só diversão, embora, é claro, com um vocabulário do século 19, o que nem sempre é simples para nós. Na verdade, o tal Brás Cubas se exibe até no uso do vocabulário, ele é pedante. Se prosseguirmos na leitura, conseguimos rir muito, pensando que os vários episódios vividos naquela sociedade (por ele e por todos), são os mesmos nos tempos de hoje. E muitas ações sociais e morais são as mesmas... O pai de Brás Cubas, por exemplo, era um exibicionista. Dava festas muito ricas para 'fazer barulho', para aparecer na sociedade. Quanta gente faz isso ainda hoje, não? Existem até revistas especializadas nessa exibição de ricos e famosos...
Humor inglês
Acabamos percebendo que as pessoas são as mesmas, que o mundo da hipocrisia e farsa social não mudou. Esta sensação é parte do pessimismo machadiano de que tanto nos falam os livros Não gargalhamos, apenas rimos em silêncio, com o canto da boca, para nós mesmos. E este sinal é o famoso humor inglês de que falam os estudiosos: as piadas, as ironias são todas assim, inglesas; o defunto diz o que quer, fingindo não dizer.Um dos momentos mais cruéis (sim, a ironia às vezes é cruel com os personagens) se chama "A flor da moita". Sabe por quê? Quando pequeno, Brás havia presenciado um beijo às escondidas que um poeta casado dava numa dama solteirona atrás de uma moita da mansão de seus pais. Pois bem, anos depois, conheceu a filha bastarda dessa mesma senhora, a menina Eugênia. Era linda, educada, pura, mas coxa (manca). Eugênia ficou então sendo "a flor da moita" porque concebida no amor ilícito. Por isso teria defeitos. Perceba que Brás é grosseiro, vulgar e deseducado. Mas quem vai punir um defunto? Quem? Quem inventou Brás Cubas?
Porém: Quem inventou Brás Cubas, que narra em primeira pessoa toda sua história? O verdadeiro autor da obra é Machado de Assis. Pensando melhor, vemos que esse Joaquim Maria Machado de Assis, fluminense, mulato, epilético, casado com Carolina, sem filhos, e muito famoso no Rio de Janeiro inventou um modo muito original de pôr na " boca" de um defunto inventado coisas que ele, Machado, queria dizer.
Quer dizer: o narrador Brás Cubas não é nem nunca será Machado. Mas Machado, usando seu personagem, ironiza a sociedade em que viviam os ricos no Rio de Janeiro.

Márcia Lígia Guidin*Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Machado de Assis (2)

A obra do realista

Nem sempre houve um Brás Cubas na vida de Machado de Assis. Um crítico muito respeitado, Augusto Meyer, se pergunta: o que terá acontecido a Machado de Assis para mudar tão radicalmente o modo de escrever? Que demônios tomaram conta dele, numa "conversão às avessas?".A rigor ninguém sabe responder a essa questão. O fato é que antes de publicar "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881), considerada a primeira obra realista no Brasil, Machado já era bastante conhecido no acanhado meio intelectual do Rio de Janeiro, pois já havia escrito outros quatro romances ("Ressureição", 1872; "A Mão e a Luva", 1874; "Helena",1876; "Iaiá Garcia", 1878), algumas peças de teatro, vários livros de poesia (sua poesia não é boa) e dois livros de contos ("Contos Fluminenses", 1870; "Histórias da Meia-Noite",1873).
Antes e depois
Os quatro romances anteriores a 1880 são normalmente chamados de "românticos". Não o são totalmente, dada a personalidade inquieta do autor, que não compartilhava com todas as idéias do romantismo; mas também ainda não são realistas nem tão provocadores - como tudo o que Machado veio a escrever depois de "Brás Cubas".
Nos quatro romances da primeira fase, Machado trata de temas que só depois vai aprofundar e desvendar: amor é para sempre? Pode-se casar por interesse? A vida social pode mudar as pessoas? Dizem os críticos, que o modo atrevido de ser de Brás Cubas nunca mais saiu dos ombros do autor.Afinal, quem manda mais: o autor ou o personagem? Boa pergunta essa. Para estudarmos os personagens e as obras de qualquer autor não necessariamente precisamos saber muito da vida de seus criadores; afinal, obras literárias existem por si mesmas depois de escritas. Mas, no caso de Machado de Assis, as "Memórias Póstumas", de 1881 (escritas quando ele tinha 40 anos) funcionam como um divisor: antes escrevera obras que não afrontavam a literatura vigente; depois, criaria obras particularmente provocadoras, com aprofundamento moral e psicológico dos personagens, muita ironia e muitas revelações sobre a hipocrisia social e sobre a ética particular e oportunista. Puro realismo brasileiro... nas mãos de um escritor culto, que lia em várias línguas, fazia críticas e escrevia crônicas em jornais.
O homem e sua obra
Uma coisa é necessário dizer: a supervalorização "fantasiosa" da biografia de Machado de Assis atrapalha o estudo de sua obra. Como era neto de escravos, mulato e pobre, há até hoje o desejo de transformá-lo num brilhante "selfmade man", o que é impreciso. Há quem diga que ele subiu na vida, ficou pedante e nunca escreveu histórias de pobres como ele. Pura mentira! Machado escrevia incluindo ricos ou pobres para mostrar o que há de igual e obscuro dentro de todos nós.
Contos de Machado de AssisPara comprovar a falta de preconceito, basta-nos ler alguns contos que se passam inteiramente entre as classes pobres. Depois de 1881, ele publicaria vários livros de contos, um deles chamado "Histórias Sem Data" (1884). Nesse livro estão muitos dos melhores contos do escritor (A Igreja do Diabo, Singular Ocorrência, Conto Alexandrino, A Senhora do Galvão, Primas de Sapucaia). Imagine uma dessas histórias, que se chama Noite de Almirante: Genoveva, pobre, agregada, bordadeira se apaixona por um pobre marujo, Deolindo Venta-Grande, tímido, pobre, romântico... Decidem "dar uma cabeçada", ou seja, amigar-se; ele, porém, tem de viajar pelos mares afora a trabalho; ela fica na periferia bem pobre do Rio, com a promessa de que o esperará.Quando ele voltar (e ele volta), terá uma noite inesquecível com sua amada, uma noite de almirante. Porém, ao voltar ele descobre que não só ela não o esperava à janela "bordando", como ele a imaginava, como já estava morando com outro namorado. Indignado, ele lhe cobra o juramento feito, e ela, com toda a naturalidade diz: "Pois, sim, Deolindo, era verdade. Quando jurei, era verdade (...) Mas vieram outras coisas...Veio este moço e eu comecei a gostar dele." Deolindo queria matá-la, depois retomava a esperança; conversaram, ele lhe deu presentes; ela agradeceu e... tudo ficou como estava. No final da história, não a matou nem se matou. Pior: sobreviveu, aprendeu que os juramentos não valem para sempre e mentiu aos amigos, sugerindo a eles que tivera uma noite inesquecível, uma noite de almirante.Neste conto (como acontece em muitos outros), Machado consegue coisas surpreendentes: relativiza os juramentos, portanto relativiza a moral de pobres ou ricos; ironiza com o romantismo, pois Deolindo era um romântico tolo; e, ainda por cima, nos faz lembrar da grande história de todos os tempos, a de Ulisses, da "Odisséia", que volta para casa depois de vinte anos enquanto Penélope o esperava, tecendo uma manta. No conto, o mito do amor invencível desaparece, e nós rimos, com pena da ingenuidade de Deolindo: sua "Penélope" não só não o esperou como o trocou por outro rapidamente...O autor e a escravidãoHá outros dados da biografia de Machado que interferem mal nas leituras de seus muitos textos. Por exemplo, o fato de ser mulato não o fez desprezar os negros como muitos dizem. Machado era abolicionista, embora isso não fique explícito em muitos romances. Para ter certeza dessa ideologia, é simples: só ler suas crônicas, o que quase ninguém faz. Seu pai não era um negro pintor de paredes nem sua mãe era lavadeira, como se diz por aí. O pai era um artesão, a mãe dona de casa e, o que era raro na época, embora pobres, eram ambos alfabetizados e casados legalmente.Outras barbaridades "biográficas"Vez por outra aparece mais uma barbaridade 'biográfica" para explicar a obra. Nós já ouvimos dizer que Machado tem como um dos temas preferidos o adultério feminino (Há adultério masculino também, acredite) e teria escrito "Dom Casmurro" por obsessão ao tema, já que tivera um "caso" com a mulher de José de Alencar (escritor que ele tanto admirava, cujo filho, Mário, era seu amigo).Que tolice! Machado de Assis explora, entre tantos outros temas, o do adultério porque explora em seu realismo, os perfis masculino e feminino em sociedade, seja ela a burguesia ou a proletária. E homens e mulheres amam, casam, mas também traem. Machado quer analisar, com suas histórias, como os seres escondem da sociedade ações por ela não aceitas. Como falar do casamento se não se falar de interesses, amores frágeis, mentiras ou verdades?
Antes de publicar o famoso romance "Dom Casmurro" (1899), Machado havia escrito "Quincas Borba" (1891), romance delicioso sobre os interesses, a ingenuidade e a loucura.Quando escreveu "Dom Casmurro", Machado era muito famoso no Rio de Janeiro, muito respeitado pela maioria dos colegas, já havia fundado a Academia Brasileira de Letras em 1897, era seu presidente. Depois desse romance, ainda escreveria mais dois: "Esaú e Jacó" (1904) e "Memorial de Aires", publicado em 1908, mesmo ano em que morreria.

*Márcia Lígia Guidin é professora universitária de literatura, autora de "Armário de Vidro - Velhice em Machado de Assis", e dirige a Miró Editorial. *Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Dom Casmurro, resumo da história

"Dom Casmurro", de Machado de Assis, teve sua primeira edição lançada em 1900. O livro pode ser compreendido como a autopsicanálise de Bento Santiago, que viveu uma história de amor com final trágico. Emotivamente, encontra-se mutilado, pois acredita ter sido traído pela esposa, Capitu, e pelo melhor amigo, Escobar.Muitos anos após a morte dos dois, decidiu escrever um livro para se livrar dos fantasmas do passado, demonstrando definitivamente que não errou na atitude que tomou em relação à mulher e ao filho. A ação se passa aproximadamente entre 1857 e 1875, embora o livro tenha sido escrito na década de 1890.Na infância e adolescência, Bento de Albuquerque Santiago morava na rua de Matacavalos (Rio de Janeiro), com sua mãe viúva dona Glória, a prima Justina, o tio Cosme e o agregado José Dias. Na casa ao lado, vivia Capitolina (Capitu), filha de Pádua e Fortunata. Ao contrário da família de Bentinho, os pais de Capitu são pobres. Mesmo assim, os meninos conviveram como amigos.
À força no seminário
Quando Bentinho completou 15 anos, José Dias lembrou dona Glória da promessa por ela feita de enviar o filho para o seminário. Na verdade, procurava alertá-la para o perigo de envolvimento amoroso do menino com a vizinha. Mas Bentinho e Capitu já estavam apaixonados.De qualquer modo, foram separados pelo seminário, Bentinho tornou-se amigo de Escobar, outro seminarista sem vocação. Posteriormente, com a ajuda do mesmo José Dias e de Escobar, Bentinho conseguiu fazer a mãe desistir da promessa de torná-lo padre. Foi para São Paulo e formou-se em direito. Depois, voltou para o Rio e casou-se com Capitu. Escobar, por sua vez, casou-se com uma amiga dela, Sancha.
De quem é esse filho?
Os dois casais eram felizes e se tornaram muito amigos. Contudo, Bentinho e Capitu sentiam-se contrariados por não terem filhos. Dois anos mais tarde, nasceu um menino, chamado de Ezequiel. O menino crescia e Bentinho, sempre inseguro e ciumento, via nele a cara de Escobar. A partir de então, a amizade de Escobar por Capitu passou a alimentar as dúvidas de Bentinho.Escobar morreu afogado e as lágrimas de Capitu pelo morto deixaram Bentinho transtornado: pensou em suicidar-se, matar a esposa e, por fim, a separar-se dela. Mandou-a para a Suíça com o filho, onde ela morreria. Adulto, Ezequiel voltou ao Brasil, mas Bento não conseguia ver nele senão o retrato de Escobar.
Ajustando as contas com o passado
Formado em arqueologia, Ezequiel partiu para o Egito, morrendo em Jerusalém. Solitário e angustiado, Bentinho passou a viver para o passado. Procurava reinterpreta-lo, construindo no Engenho Novo uma casa idêntica à de Matacavalos. Em seguida pôs-se a escrever sua autobiografia, para convencer-se da traição da mulher e para provar ao mundo que não agira mal ao recusar Ezequiel.Como bem ressalta o crítico literário Ivan Teixeira: "Até hoje, a maioria das pessoas só tem se preocupado em ressaltar a ambigüidade e dissimulação de Capitu, porque isso é o que Bentinho diz dela. Não se pode esquecer, porém, que 'Dom Casmurro' é um retrato de mulher feito pelo marido. Vem daí que aquela a ambigüidade depende da maneira com que o marido a vê. E, além disso, sendo um retrato moral, jamais poderia ser preciso."
Causa e perspectiva
Qual seria a motivação desse retrato? Bentinho precisava dessa justificativa para si mesmo, por não dispor de nenhuma prova concreta contra Capitu, a não ser a suposta semelhança entre seu filho e Escobar. Suposta, pois se trata da versão que o próprio Bentinho dá aos fatos.Todos os personagens só se tornam conhecidos do leitor pela sua perspectiva. Esse é o grande lance da obra: a escolha certa do foco narrativo. Mais uma vez citando Ivan Teixeira: "Ao inventar um narrador problemático, o romancista descobriu a chave para a densidade psicológica do romance e também para o seu efeito estético".
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação