Literatura Oral

Histórias atravessam milênios

Os textos de tradição oral são histórias contadas em voz alta por um narrador a um grupo de ouvintes. Essa é uma tradição que data da Pré-História. Até hoje, nas tribos primitivas da África, da Austrália ou mesmo do Brasil, escutar um narrador contando histórias ainda é um costume comum.
A importância social da narrativa oral, cujas finalidades variam de acordo com as circunstâncias, gerou muitas maneiras de contar uma história. Isso criou vários gêneros de narrativas como o conto (popular, maravilhoso, de fadas), as fábulas, os apólogos, as parábolas, as lendas e os mitos.
Por meio dessa diversidade de narrativas, entra-se em contato com idéias que já fazem parte do patrimônio cultural da humanidade. O advento da escrita ajudou a preservar as narrativas da tradição oral, desde as mais remotas, como as do Antigo Egito e da Mesopotâmia, até as mais recentes, como os contos de fadas.
A importância de conhecer essa literatura é ampliar o nosso conhecimento de mundo e da história do homem. Abrir horizontes para o universo cultural da humanidade é um forma de crescer tanto pessoal quanto profissionalmente profissional. Mas, além de conhecimentos, essas histórias - em especial por sua engenhosidade - também entretêm e proporcionam diversão.
Conto infantilAlguns dos mais importantes pesquisadores dos contos da tradição oral universal foram o francês Charles Perrault (1628-1703), que recolheu várias histórias ainda muito conhecidas, como "Cinderela" e "O Pequeno Polegar", entre outras. Os alemães Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), que ficaram conhecidos como os Irmãos Grimm, dedicaram grande parte de suas vidas a recolher histórias contadas oralmente por pessoas comuns.
Além de escreverem as histórias, os dois estudiosos também registravam o modo como eram faladas, isto é, a linguagem popular de seu país. Finalmente, pode-se citar o dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) que registrou muitas histórias da tradição oral de seu país. Seus contos, como "A Menina dos Fósforos" ou "A Pequena Sereia" também continuam a fazer sucesso ainda nos dias de hoje.
No Brasil, Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) foi um dos mais importantes pesquisadores da nossa cultura popular brasileira. Autor do "Dicionário do Folclore Brasileiro" registrou diversas narrativas populares, imortalizando personagens como o Saci, a Mula-sem-cabeça e o Curupira.
Histórias que o povo conta O adjetivo "popular" significa, segundo o dicionário Houaiss, "relativo ou pertencente ao povo, especialmente à gente comum ". O conto popular, portanto, é uma narrativa de tradição oral que não possui um autor específico, é anônimo, criado em local e época ignorados, e passado através de gerações.
Por ser constantemente recontado, sofre modificações ao longo do tempo. É comum nessas narrativas a criação de personagens típicos da região na qual a história se originou. É um dos mais antigos gêneros da tradição oral, uma manifestação cultural que surge de modo espontâneo e não tem um compromisso com a cultura formal.
O conto popular possui uma riqueza expressiva e imagética e tende a ser universal, isto é, possui simbolismo e uma estrutura narrativa que é facilmente reconhecida e admirada pela maioria das pessoas, sejam adultas ou crianças, pessoas alfabetizadas ou não-alfabetizadas, gente instruída ou pessoas sem acesso à cultura formal, isto é, à escola.
Apesar de nascer do imaginário do homem simples e não ter uma vinculação com regras e normas, o conto popular possui particularidades em sua forma de composição. Por exemplo, em geral, os personagens são pessoas simples que, após muitas aventuras, conseguem vencer na vida, por assim dizer. Nestes contos, em geral apresentam-se muitos enigmas e desafios que exigem dos personagens inteligência e esperteza.
É fantástico "Maravilhoso" é algo que sobrenatural, que nos surpreende, encanta e fascina. O conto maravilhoso é aquele que procura tornar concretas e verossímeis histórias cujo caráter derivam para o devaneio e a fantasia.
Nestas narrativas, que se passam num tempo que não é real nem especificamente determinado, tudo pode acontecer. Os espaços onde elas ocorrem, em geral, são misteriosos e sombrios, como grutas e florestas. Os personagens principais passam por conflitos e são auxiliados por seres sobrenaturais, com poderes e capacidades extraordinárias.
Esses seres imaginários muitas vezes surgiram dos "Bestiários", livros da Idade Média que reuniam descrições e histórias de animais reais ou fantásticos. O grande escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986) fez um bestiário moderno e reuniu muitos seres fantásticos de diversos países. Veja, por exemplo, no breve trecho que segue, a descrição de um dragão chinês:
Dragão chinês
[...] O Dragão Chinês, o lung, é uma dos quatro animais mágicos. No melhor dos casos, o dragão ocidental é aterrorizante, e no pior, ridículo; o lung das tradições chinesas, ao contrário, tem divindade e é como um anjo que fosse também um leão [...]”
(Jorge Luis Borges e Margarita Guerrero - "O Livro dos Seres Imaginários". São Paulo: Editora Globo, 2000)
Contos de fadasVimos que nos contos maravilhosos a característica principal são as situações sobrenaturais e a presença de seres e objetos mágicos e encantados. Transformações, metamorfoses e ações extraordinárias de um modo geral podem acontecer a qualquer momento da história.
Há também um tipo de narrativa maravilhosa nas quais as transformações, em geral, são particularidades de determinados seres encantados, dotados de grandes poderes mágicos. Trata-se dos contos de fadas. As histórias desses contos, em geral, possuem personagens como príncipes, princesas, camponeses, entre outros, que são auxiliados pelas fadas, ou seus similares do sexo masculino, os magos, gênios etc.
A palavra fada vem do latim fatum que significa destino. Estes seres encantados orientam ou modificam o destino das pessoas. Por serem muito generosos e terem poderes sobrenaturais, eles surgem na "vida" dos personagens nos momentos de grandes dificuldades, quando parece que é impossível superar os conflitos.
Nos contos de fadas, como em muitas narrativas literárias, existem episódios ou situações de equilíbrio e desequilíbrio que vão se modificando, de acordo com os acontecimentos que provocam a passagem de um estado para outro. O que prende a atenção do leitor são estas situações de conflitos e as soluções que vão acontecendo durante a narrativa.

* Carla Caruso é escritora, pesquisadora e realiza projetos de capacitação de professores no Estado de São Paulo.Carla *Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

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